Plágio: Future-se é nome com registro no INPI de empresa de “coaching profissional”

Atualizado em 22 de julho de 2019 às 15:28
Ghislaine Sandri Damasceno Vieira da Silva (Imagem: reprodução)

PUBLICADO NO PORTAL COME ANANÁS

POR HUGO SOUZA

“Gente, a gente não tá copiando”, disse o ministro brasileiro da Educação, Abraham Weintraub, no finzinho da apresentação do programa Future-se, do MEC, no último 17 de julho, em Brasília. O Governo Federal, porém, batizou seu programa que “pretende libertar, criar sentimento de empreendedorismo” com um nome já registrado por terceiro no Instituto Nacional de Marcas e Patentes (INPI), e registrado precisamente na especificação “consultoria empresarial em negócios”, que é no que o governo Bolsonaro pretende transformar a Universidade pública brasileira.

O pedido de registro da marca “Future-se” foi feito no dia 24 de maio de 2016 por Ghislaine Sandri Damasceno Vieira da Silva, que é dona também do domínio “future-se.com.br”. A concessão de registro do INPI saiu quase dois anos depois, em 27 de março de 2018, e tem validade de 10 anos. Desde aquele dia, portanto, e até 27 de março de 2028, Ghislaine tem direito à propriedade e ao uso exclusivo da marca “Future-se” em todo o território nacional, em seu ramo de atividade econômica, desde que a mantenha em uso.

Em uso, ela a mantém. Ghislaine Sandri é dona da empresa de “coaching profissional” Future-se, baseada na cidade de Nova Friburgo, na região serrana do estado do Rio de Janeiro.

Já em matéria de ramo, em matéria de contabilidade de empresas de Coaching, o código de Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) nos quais essas empresas costumam se enquadrar para prestar contas à Receita Federal é o 8599-6/04, para “treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial”.

Esse código não compreende o ensino superior, de modo que, a princípio, nem se quisesse – e ela, perguntada por Come Ananás, diz não querer -, Ghislaine Sandri poderia levar muito adiante uma qualquer contestação ao batismo pelo Governo Federal do programa com o qual intenta-se transformar a universidade brasileira em uma “linha de montagem de empresas” (palavras usadas por Weintraub no evento de apresentação do Future-se), via “capital estrangeiro” (palavras usadas pelo MEC no vídeo de apresentação do programa).

‘Eliminando as vozes internas críticas’

Perguntada se o uso pelo governo Bolsonaro da marca “Future-se” de alguma maneira a incomodou, Ghislaine respondeu: “não me incomodou, pois a princípio é apenas um nome de um programa, um projeto”. Sobre se vê semelhanças entre o Future-se do MEC e a sua Future-se, disse que não conhece o do MEC a fundo: “mas acredito que não. Meu trabalho é exclusivamente o Coaching de Carreira”.

O que nos leva, porém, “De Volta Para o Future-se”.

“A gente quer libertar nossos jovens dessa perspectiva: ‘vou ter que arrumar um emprego, vou fazer um concurso público’. Não! ‘Eu sou o senhor do meu destino. O que eu aprendi de conhecimento eu vou criar alguma coisa que gere riqueza. O empreendedorismo vai estar dentro de mim’”, disse Weintraub, apresentando o Future-se do MEC.

Diz a Future-se de Nova Friburgo, em seu website, que com “investimento inicial” de R$2.500,00 “o processo de Coaching Future-se na Carreira com a estratégia do Mapa F10 tem a proposta de te ajudar a descobrir o melhor caminho a partir de suas forças e de sua própria inteligência”.

Outro ponto em comum entre o Future-se do MEC e o “Future-se na Carreira” é que está lá, previsto para o “Mapa F10”, para os “coachees”, como para a Universidade brasileira, para a desgraça desse país: “eliminando as vozes internas críticas”.

Tipografia ‘techno’

“Gente, a gente não tá copiando. A gente está trazendo as melhores ideias”, disse Weintraub, sobre o Future-se. Logo na sequencia do anúncio do Future-se do MEC, Kátia Gerab Baggio registrou em postagem no Facebook:

“Descobri, ao buscar ‘Future-se’ no Google, que este é um slogan usado pela Faculdade de Informática e Administração Paulista – FIAP, para divulgar seus cursos de MBA nas áreas de Tecnologia, Inovação e Negócios, com o objetivo, segundo consta na página, de formar “líderes do futuro” e promover “o empreendedorismo, a inovação e o networking”. O nome adotado pelo MEC é uma mera coincidência? Nem original, na escolha do nome, o MEC conseguiu ser? Registro que a concepção e o visual de lançamento do projeto do MEC são muito similares aos encontrados na página da FIAP”.

(…)