Plano de vacinação do governo Bolsonaro é insuficiente e inaceitável, avalia Mercadante

Atualizado em 15 de dezembro de 2020 às 23:55
Jair Bolsonaro (foto Evaristo Sá/AFP)

Em entrevista ao programa DCM Ao Meio-Dia desta terça-feira (15/12), o ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, criticou o plano de vacinação contra a Covid -19 apresentado pelo governo Bolsonaro, que prevê a vacinação de apenas 25% da população brasileira até o final de 2021. O ex-ministro classificou o plano como completamente inaceitável e insuficiente.

“Eu acho que eles continuam subestimando esse tema e à medida que os outros países começam a vacinar e a população começa a ficar protegida no resto do mundo, aqui nós vamos ter uma tensão social e política muito grande em torno do Bolsonaro e das suas atitudes”, disse. Mercadante também criticou a atitude de Bolsonaro de sabotar o distanciamento social e a própria vacina contra o novo coronavírus.

Para o ex-ministro, Bolsonaro adota essa estratégia negacionista porque não garantirá vacina suficiente para todos os brasileiros. “Só que 53% das vacinas produzidas já estão com países ricos e os países em desenvolvimento já estão ficando no final da fila e os que não foram prudentes, como é o caso do Brasil, completamente vulneráveis”, explicitou.

Segundo Mercadante, em razão de todo esse cenário e da falta de planejamento do governo federal, o Brasil está caminhando para uma tragédia sanitária previsível. “Todos os alertas possíveis foram dados e o governo seguiu nessa sanha negacionista em relação à pandemia, subestimando a gravidade, tentando desmobilizar todo o processo de distanciamento social, que o mundo inteiro usou para tentar reverter esse quadro e, agora, nós estamos diante ou de uma segunda onda ou de uma retomada da primeira onda, de que nós nunca saímos”, avaliou.

Veto ideológico à vacina

Durante a entrevista, o ex-ministro também disse que o povo brasileiro não pode ficar só olhando e esperando pela a vacina. “Primeiro que o governo não planejou, ele continua tendo vetos ideológicos que são inaceitáveis à vacina chinesa, que usa uma tecnologia muito conhecida e consolidada do vírus inerte. Eu repito aqui, na H1N1 nós utilizamos vacina chinesa, 75% dos fármacos a gente usa tem origem na China. Então, não tem nenhum cabimento essa atitude”, argumentou.

Mercadante também apontou uma atitude de veto ideológico do governo brasileiro à vacina russa. “A vacina russa, ao que tudo indica, é uma vacina de grande cobertura e grande eficácia. Os russos têm um centro de guerra biológica desde a guerra fria e eles são muito qualificados nessa parte de pesquisa, de biologia, de biotecnologia, de fármacos. Então, não pode ter veto”, defendeu.

De acordo com o ex-ministro apesar de metodologias diferentes, todas as vacinas estão sendo testadas, checadas, serão verificadas e serão entregues para a sociedade com segurança. “Nós não podemos continuar nessa disputa da vacina, entre governadores, que estão fazendo disso campanha política, não é esse o caso. Nós temos que trabalhar com seriedade, em parceria, a Anvisa acelerar as liberações, mas até lá nós temos que ter distanciamento, tem que usar máscara, tem que usar gel e tem que sempre ter as medidas sanitárias que são definidas”, expôs.

Preocupação para janeiro

Mercadante demonstrou preocupação para uma explosão de casos de Covid-19 no Brasil em razão das festas de final de ano, em que as grandes famílias vão se encontrar e se colocar em risco. “Não tem como fazer qualquer atividade de festas de fim de ano com mais de seis pessoas. Então, vamos ser prudentes porque não há vacina e outra coisa, não está claro se a vacina vai reverter esses procedimentos, mesmo porque vai ser muito lento o processo de vacinação. Há, por exemplo, projeções que nós vamos chegar ao final de 2021 com apenas 25% da população vacinada, então, o vírus vai estar aí”, explicou.

“Nós só vamos nos livrar dessas medidas do distanciamento, da máscara e do álcool gel em 2022 e olhe lá. Por isso, nós temos que mudar nossa atitude, nossa cultura, nossos procedimentos e colocar a saúde em 1º lugar”, finalizou.