
Coincidências não existem, dizia Jung. A madrugada desta quarta-feira (12) foi marcada por tensão no Rodoanel Mário Covas, em São Paulo, depois que um caminhoneiro afirmou ter sido sequestrado e obrigado a atravessar o veículo na pista com uma suposta bomba presa ao corpo. O episódio ocorreu no mesmo dia em que deve ser votado na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei Antifacção, relatado pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), ex-secretário de Segurança Pública paulista, que agora tenta equiparar o crime organizado a grupos terroristas.
O texto passou por um “pente fino” do governo Lula (PT) e se tornou uma das pautas mais sensíveis do Congresso.
De acordo com a concessionária SPMAR, o motorista relatou ter sido abordado por três criminosos que o forçaram a bloquear a via. Ele teria informado ao centro de controle da rodovia que havia explosivos na cabine. Por segurança, as pistas no sentido da rodovia Presidente Dutra foram totalmente interditadas, provocando um congestionamento de 16 quilômetros.
O Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) e o esquadrão antibombas da Polícia Militar foram acionados para verificar o artefato. As pistas foram liberadas após 5 horas de interdição. Após a ação, a PM confirmou que se tratava de uma bomba falsa.
O caso acontece justamente em um dia de forte tensão política, quando o relator do PL Antifacção tenta viabilizar a votação do projeto que supostamente endurece as penas contra o crime organizado, mas que na versão inicial tiraria poder da Polícia Federal nas investigações.
URGENTE: motorista de carreta atravessada no Rodoanel (SP) é retirado do veículo. #GloboNewsEmPonto
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— GloboNews (@GloboNews) November 12, 2025
O recuo de Derrite
Após impasses e críticas do Ministério da Justiça e de especialistas em segurança pública, Derrite recuou nos pontos mais criticados , como a equiparação entre facções criminosas e grupos terroristas e a limitação da atuação da Polícia Federal. “O que você chama de recuo, eu chamo de estratégia. Eu atendo ao interesse do povo brasileiro”, afirmou o deputado ao lado do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo e aliado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), Derrite apresentou três versões do parecer em apenas cinco dias. A nova versão exclui as mudanças na Lei Antiterrorismo e cria um dispositivo próprio para punir crimes praticados por facções criminosas. O governo temia que a redação anterior ameaçasse a soberania nacional e abrisse brechas para sanções internacionais.
Na terça-feira (11), o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, reuniu-se com Motta para discutir ajustes no texto. O ministro classificou o projeto original como “recheado de inconstitucionalidades” e chegou a cogitar acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) caso as alterações não fossem feitas. Depois do encontro, Motta e Derrite acertaram detalhes para a votação em plenário, prevista para esta quarta-feira.
Durante sua gestão na Secretaria de Segurança de São Paulo, Derrite se notabilizou pelo discurso de endurecimento policial, mas também por recordes de letalidade.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o número de mortes em ações policiais no estado subiu de 421, em 2022, para 813 em 2024. Apesar da queda de 11,4% nos “crimes violentos” no período, aumentaram os registros de estupros, lesões corporais e golpes digitais.