
A Polícia Militar do Rio de Janeiro (PM-RJ) reconheceu, em resposta obtida via Lei de Acesso à Informação, que não utilizou métodos científicos para estimar em 400 mil pessoas o público do ato pró-Bolsonaro em Copacabana no dia 16 de março. A informação contrasta com a contagem de 18,3 mil participantes feita por pesquisadores da USP, que usam tecnologia avançada para cálculos de multidões.
O caso ganhou repercussão após a PM-RJ, que não divulgava estimativas de público desde 2013, quebrar o protocolo e anunciar um número considerado inflado até por integrantes da própria corporação. Segundo Octávio Guedes, da GloboNews, a ordem para divulgação partiu do Palácio Guanabara, sede do governo de Cláudio Castro (PL).
“A Secretaria de Estado de Polícia Militar (SEPM) agradece o contato e informa que o quantitativo de pessoas foi aferido por meio de imagens aéreas feitas pelas Aeronaves do Grupamento Aeromóvel da Corporação e também pelas equipes em solo, que monitoraram o acesso à região onde acontecia a manifestação”, informou a PM-RJ em resposta enviada com dois meses de atraso à solicitação feita em 17 de março.
A #PMERJ acompanhou, na manhã deste domingo (16), uma manifestação na orla de Copacabana. O ato, que reuniu mais de 400 mil pessoas, foi monitorado pelo #19BPM, com apoio do #1CPA e #COE. Sem registros de ocorrência, a SEPM segue acompanhando a dispersão nos transportes públicos. pic.twitter.com/SNztSci6bW
— @pmerj (@PMERJ) March 16, 2025
Já a metodologia da USP, desenvolvida pelo Monitor do Debate Político do Cebrap, utiliza inteligência artificial. Foram tiradas 66 fotos da praia de Copacabana em quatro horários diferentes, com seis imagens selecionadas no momento de pico (meio-dia).
O sistema Point to Point Network (P2PNet) analisa as fotos aéreas, identifica e marca automaticamente as cabeças das pessoas, alcançando precisão de 72,9% na identificação de indivíduos.
A estimativa da PM-RJ, publicada no perfil oficial da corporação no X, alcançou 11,9 milhões de visualizações, número expressivo para uma conta com 373 mil seguidores. Enquanto isso, pesquisadores da USP que divulgaram a contagem de 18,3 mil pessoas foram alvo de ataques nas redes sociais por apoiadores de Bolsonaro.
No último domingo (29), novo ato do ex-presidente na Avenida Paulista, em São Paulo, teve público estimado em 12,4 mil pessoas pela mesma metodologia da USP. Diferentemente da PM-RJ, a polícia paulista não divulgou números oficiais.