PM reforça segurança e fecha Esplanada após “buzinaço” contra prisão de Bolsonaro

Atualizado em 5 de agosto de 2025 às 0:13
A Polícia Militar do Distrito Federal reforça a segurança e fecha o acesso à Esplanada dos Ministérios e à Praça dos Três Poderes. Foto: Wilton Junior/Estadão

A decretação da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), provocou uma reação imediata de seus apoiadores e forçou o reforço da segurança na capital federal. Na noite de segunda-feira (4), a Polícia Militar do Distrito Federal bloqueou o acesso à Esplanada dos Ministérios e à Praça dos Três Poderes, impedindo que manifestantes pró-Bolsonaro se aproximassem do STF.

O motivo da decisão foi a convocação de um “buzinaço” promovido por bolsonaristas nas redes sociais, em protesto contra a medida imposta a Bolsonaro. Com receio de atos semelhantes aos que resultaram na invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, Moraes determinou também a proibição da instalação de acampamentos em um raio de um quilômetro da Esplanada, da Praça dos Três Poderes e de quartéis das Forças Armadas.

Apesar dos bloqueios, uma carreata de apoiadores partiu pelas ruas de Brasília em direção ao condomínio Solar de Brasília, onde o ex-presidente mora. Os manifestantes, escoltados por viatura da PM, entoaram palavras de ordem como “Fora, Xandão” e “Supremo é o povo”, além de gritos de apoio a Bolsonaro. Segundo relatos, houve orações, execução do hino nacional e buzinas em frente à residência.

 

 

O entorno do condomínio foi rapidamente cercado por agentes de segurança. Pelo menos 30 homens foram mobilizados às pressas para reforçar a vigilância nas guaritas e bloquear ruas próximas. Motociclistas da segurança privada passaram a controlar o fluxo de moradores e visitantes. Todos eram revistados, e o uso de celulares para filmagens foi vetado, inclusive para moradores.

Segurança em frente à residência onde mora Jair Bolsonaro (PL) — Foto: Cristiano Mariz/O Globo

Ainda assim, a música “Tá na Hora do Jair Já Ir Embora” ecoou das caixas de som de carros dentro do condomínio. Os moradores que circulavam pelas ruas internas insistiram que estavam em área pública e se recusaram a abaixar o volume. A situação fez lembrar o episódio anterior, em julho, quando o ex-presidente passou a usar tornozeleira eletrônica e causou discussões com vizinhos.

No despacho que determinou a prisão domiciliar, Moraes justificou que Bolsonaro descumpriu pela segunda vez medidas cautelares ao participar, mesmo que por telefone, de um ato político no domingo (3), em Copacabana, zona sul do Rio. A gravação do telefonema foi publicada nas redes sociais por seus filhos, Flávio e Carlos Bolsonaro, violando a proibição do uso de redes e da participação em eventos.

Para o ministro, o gesto de Bolsonaro foi premeditado. Em sua decisão, Moraes escreveu que o ex-presidente “produziu dolosa e conscientemente material pré-fabricado para seus partidários continuarem a tentar coagir o STF e obstruir a Justiça”. O conteúdo teria como objetivo “instigar ataques” à Corte e promover apoio à intervenção estrangeira nos assuntos internos do Judiciário brasileiro.

Trecho do que Moraes escreveu em sua decisão. Foto: Divulgação

Moraes também citou diretamente os filhos do ex-presidente — Eduardo, Flávio e Carlos Bolsonaro — como parte de uma atuação coordenada para disseminar mensagens ofensivas contra o Supremo. O episódio está ligado ao inquérito da Ação Penal 2.668, que apura a tentativa de golpe após as eleições de 2022, e cujo julgamento está previsto para fevereiro de 2026.

Além da restrição de deslocamento e proibição de acesso às redes sociais, a decisão judicial impõe a Bolsonaro a proibição de manter contato com outros investigados, autoridades estrangeiras e embaixadores. Apenas advogados e pessoas previamente autorizadas pelo STF podem visitá-lo, e esses visitantes não poderão portar celulares ou gravar imagens.

O endurecimento das medidas gerou forte repercussão entre bolsonaristas no Congresso. O deputado Zé Trovão (PL-SC), por exemplo, chamou a decisão de “arbitrariedade” e declarou ao Estadão que Moraes “quer destruir a democracia brasileira”. A radicalização de parte da base bolsonarista indica que o caso seguirá provocando tensão política nas próximas semanas.