PMs não agiram com racismo contra filhos de embaixadores no Rio, diz polícia

Atualizado em 11 de agosto de 2024 às 8:40
Registro de abordagem policial – Reprodução

A Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat) concluiu, na sexta-feira (9), a investigação sobre a abordagem de policiais militares a quatro adolescentes, três deles negros e filhos de diplomatas, ocorrida em julho em Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

De acordo com o relatório da Polícia Civil, não houve “crime de injúria racial, modalidade típica do crime de racismo ou do próprio crime de racismo” por parte dos dois agentes envolvidos. O caso foi encaminhado ao Ministério Público para análise.

Segundo a delegada Danielle Bulus Araújo, responsável pelo inquérito, os depoimentos dos quatro jovens abordados não indicaram o uso de “palavras ofensivas, xingamentos, palavras com cunho racial, palavras discriminatórias ou humilhantes” por parte dos policiais.

As imagens capturadas pelas câmeras corporais dos agentes mostraram que, minutos antes da abordagem, um turista estrangeiro havia relatado a PMs que fora vítima de roubo de um cordão, relato que foi corroborado por outros dois homens, que também afirmaram que o ladrão estava armado com uma faca.

“Os homens descreveram para os policiais as características dos roubadores, e eles saíram com as viaturas para tentar localizar o grupo de criminosos”, detalhou o relatório obtido pelo G1. A delegada afirmou ainda que os policiais “não elegeram suspeitos com base na cor da pele, estavam atrás de suspeitos seguindo a descrição de vítimas estrangeiras que tinham acabado de sofrer um crime na praia de Ipanema”.

O inquérito, composto por 11 páginas, concluiu que “não houve tratamento diferenciado para ninguém” durante a abordagem. O documento também destaca que “todos foram revistados, inclusive o adolescente branco teve a revista padrão da bolsa escrotal, enquanto um dos menores pretos não sofreu a revista”.

A revista nas partes íntimas foi justificada pela delegada devido ao fato de que, em casos de roubo de cordões, é comum que criminosos escondam o item em locais como a cueca. Dessa forma, segundo o relatório, não houve dolo no crime de injúria racial ou racismo.

Os três filhos de diplomatas negros estavam acompanhados de dois adolescentes brancos, ambos brasileiros, quando foram abordados pelos policiais na Rua Prudente de Moraes. Eles haviam acabado de deixar um amigo em casa.

Nas redes sociais, a família de um dos adolescentes brasileiros denunciou o que considerou ser uma abordagem racista. No entanto, nada relacionado a qualquer ato de racismo foi mencionado durante os depoimentos prestados na Polícia Civil.

A embaixatriz do Gabão, mãe de um dos jovens negros, criticou a abordagem, especialmente pelo fato de os policiais terem agido com armas em punho. Em depoimentos, os adolescentes abordados e as testemunhas presentes afirmaram não ter ouvido palavras de cunho racial e que os policiais agiram da mesma forma com todos.

Após a divulgação do relatório, a mãe de um dos adolescentes argumentou que “o racismo vai muito além de proferir palavras racistas” e revelou que os adolescentes foram orientados a não sair mais após a revista, temendo novas abordagens.

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