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Pó pará, senador: Serra termina a carreira de mãos dadas com Aécio. Por Kiko Nogueira

O abraço do afogado

 

Quis o destino que José Serra terminasse a carreira na mesma vala do arqui inimigo Aécio Neves, aquele para quem encomendou o artigo “Pó pará, governador” no Estadão, clássico absoluto da maldade política.

O ex-executivo da Odebrechet Pedro Novis disse em delação premiada que Serra abocanhou 2 milhões de euros em caixa 2 para sua campanha para governador de SP em 2006.

O dinheiro foi depositado entre 2006 e 2007 em contas na Suíça indicadas pelo empresário José Amaro Pinto, ligado ao PSDB. O valor corrigido, conta a Folha, chega a 5,4 milhões de reais.

Serra aparece novamente nas manchetes da mídia amiga no bojo de um grande escândalo.

Em outubro de 2016, a Odebrecht apontou aos investigadores da Lava Jato que ele recebera 23 milhões de reais, igualmente em caixa 2, para a corrida presidencial de 2010.

A negociação foi feita pelos ex-deputados federais Ronaldo Cezar Coelho e Márcio Fortes.

Pedro Novis garantiu que “não foi exigida contrapartida” de Serra — e você acredita se quiser.

Há coisas que não precisam ser proferidas em voz alta. Se o seu patrocinador entrega um envelope com essa erva, ele não precisa explicar que espera que você haja de acordo. Não tem bobo no futebol.

Lula está sendo submetido a um massacre há três anos, mas algo o ajuda nesses momentos: ele sempre esteve na mira, com intervalos curtos de calmaria. Serra, não.

José Serra passou por um exílio no Chile, onde conheceu a ex-mulher, Monica, e depois teve toda a blindagem e o auxílio necessários para que ficasse sossegado para fazer o que sempre quis nos cargos públicos que ocupou.

Se não tivesse tantos amigos na imprensa, a corrupção já teria emergido. Surge com força agora porque tudo tem limite. Até Serra e Aécio.

A ambição de disputar a presidência em 2018, eventualmente no PMDB, era a razão para topar a chancelaria do golpe. Viu que era um barco furado e pediu o chapéu, alegando uma dor nas costas barbosiana. 

Voltou para o Senado, deixou em seu lugar o destemperado Aloysio Nunes e tentou se esconder, mas o passado teima em não ficar quietinho.

Serra e Aécio sabem que estão liquidados. Uma coisa era sonhar com o Planalto em 2018. Outra é acordar com o menino Doria na cama, querendo mamar.

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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