Pobre o país cujos filósofos são Pondé e Olavo de Carvalho. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 15 de maio de 2015 às 15:25
'Filósofo'
‘Filósofo’

Pobre o país cujos filósofos mais conhecidos são Pondé e Olavo de Carvalho. Não peço Sêneca, não peço Montaigne, não peço Zenão.

Mas Carvalho e Pondé?

Um leitor reclamou de Pondé, vi no Twitter da Folha esta manhã. Fui verificar. Ele se queixava de uma frase de Pondé que dizia o seguinte, mais ou menos: “Os Estados Unidos são a melhor democracia do mundo e ninguém vai para as ruas protestar.”

Não vou discutir a idolatria de Pondé pelos Estados Unidos. Mas, como estranhou o leitor, não existem protestos lá?

Como os negros conquistaram direitos? Sentados nos cantos nos quais eram discriminados? Como a sociedade exigiu o fim da Guerra do Vietnã: vendo televisão e comendo pipoca?

E agora: o que foi o movimento Ocupe Wall Street?

Fui ler o texto de Pondé. Se entendi bem, havia lá uma tese segundo a qual a Revolução Francesa foi um equívoco da história.

Bem, este é nosso filósofo. Danton, Robespierre simplesmente são ilusões de ótica. No mundo ideal, estaríamos sob o Luís 150 na França.

Não existe maior demonstração de conservadorismo do que repudiar protestos. São eles que movem o mundo e reequilibram situações de enorme disparidade e injustiça.

Nada, rigorosamente nada, cai no colo de quem está por baixo. Ou, já que falamos dos OWS, dos 99%. Nos Estados Unidos mesmo, os debates sobre a iniquidade só ganharam a agenda nacional depois do OWS. Obama se reelegeu, mesmo com a economia em pedaços, porque usou a questão da desigualdade contra Mitt Romney, seu adversário.

Romney foi flagrado dizendo a portas fechadas que não se importava com os “47%” mais pobres entre os americanos. A campanha de Obama martelou essa fala de Romney nos americanos.

Pondé acha que é “moderno” ao repetir lugares comuns do thatcherismo e do reaganismo, mas não existe nada mais obsoleto e mais fracassado historicamente do que a doutrina de Thatcher e de Reagan.

Pondé quer parecer Paulo Francis com isso. Mas tudo que ele consegue é ser um cruzamento bizarro de Olavo de Carvalho e Rodrigo Constantino.

Publicado originalmente em outubro de 2013.