Pobres e negros morrem, segundo os outros, de causas naturais. Por Moisés Mendes

Atualizado em 10 de dezembro de 2020 às 23:02
Beto e Jane

Os defensores dos seguranças que espancaram o trabalhador João Alberto Silveira Freitas no Carrefour diziam que ele pode ter morrido de causas naturais. Talvez um ataque cardíaco.

Agora, dizem o mesmo da morte da servidora pública e militante da Vila Cruzeiro, de Porto Alegre, Jane Beatriz da Silva Nunes, que teve a casa invadida (sem que nada devesse) por uma dúzia de brigadianos, foi empurrada por um deles e passou mal.

Ela também teria morrido de causas naturais, que seria um aneurisma. Não há nunca situações semelhantes com brancos de classe média e com ricos, que não têm casas invadidas pela polícia nem levam bordoadas.

Freitas era pobre e negro. Jane Beatriz era pobre e negra. Morreram, segundo os outros, de causas naturais.

Nesse momento, centenas de pobres e negros estão morrendo dessas causas naturais nas periferias e nos morros do Brasil.

Mortes decorrentes de ações violentas (ou a invasão de uma casa não é uma violência?) tornaram-se naturais há muito tempo.