“Podem revirar tudo, não vão achar nada”, disse Sóstenes. Acharam

Atualizado em 19 de dezembro de 2025 às 10:26
Sóstenes e a bufunfa: “Podem revirar tudo, não vão achar nada”

Um ano antes de deflagrar a operação que nesta sexta-feira (19) teve como alvos diretos o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), e o deputado Carlos Jordy, a Polícia Federal já havia avançado de forma concreta sobre o mesmo esquema ao cumprir mandados de busca e apreensão contra assessores parlamentares ligados aos dois congressistas.

Essa primeira etapa da apuração foi decisiva para mapear o fluxo financeiro suspeito e identificar o mecanismo de desvio de recursos públicos, cujo aprofundamento levou à nova fase da operação.

A investigação da PF apura um suposto esquema de uso irregular da cota parlamentar para bancar despesas pessoais e políticas por meio de contratos considerados falsos com empresas de locação de veículos.

Segundo os investigadores, os contratos eram utilizados para justificar gastos elevados com aluguel de automóveis, enquanto parte significativa do dinheiro público retornaria aos envolvidos de forma indireta, caracterizando desvio de finalidade. O montante sob análise envolve centenas de milhares de reais em recursos da Câmara dos Deputados.

Apenas em 2024, Sóstenes Cavalcante declarou gastos superiores a R$ 137,9 mil com aluguel de veículos pagos com verba da cota parlamentar. O valor é quase o dobro da média registrada por outros deputados federais, que ficou em torno de R$ 76,8 mil no mesmo período. Para a PF, essa discrepância foi um dos elementos centrais que reforçaram a suspeita de irregularidade e motivaram o aprofundamento da apuração financeira.

Na primeira fase da operação, realizada no ano passado, a Polícia Federal cumpriu seis mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro, no Tocantins e no Distrito Federal. De acordo com os investigadores, parlamentares, assessores e empresários teriam firmado um “acordo ilícito para o desvio de recursos públicos oriundos de cotas parlamentares”, utilizando empresas de fachada ou contratos simulados para dar aparência legal aos repasses. As transações financeiras identificadas indicariam práticas típicas de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Carlos Jordy, deputado federal pelo Rio de Janeiro e candidato derrotado à Prefeitura de Niterói nas eleições municipais de 2024, também aparece no centro da apuração. A PF analisa a atuação de assessores ligados a seu gabinete e a movimentação de recursos associados aos contratos investigados, buscando identificar eventual divisão de valores e beneficiários finais do dinheiro público.

À época da primeira operação, Sóstenes Cavalcante afirmou publicamente que não tinha “nada a esconder” e sugeriu que poderia estar sendo alvo de perseguição política. “Podem revirar tudo, não vão achar nada”, afirmou. As investigações, no entanto, seguiram em sigilo e avançaram sobre a análise detalhada das notas fiscais, contratos, transferências bancárias e vínculos entre os envolvidos.

Com base nesse conjunto de informações financeiras e documentais, a Polícia Federal decidiu avançar para a nova fase da operação, agora atingindo diretamente os parlamentares. A apuração segue em curso e busca dimensionar o valor total desviado, identificar todos os beneficiários e apurar responsabilidades criminais no suposto esquema de uso irregular de dinheiro público da cota parlamentar.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.