Policiais de folga fazem prestam vigilância particular para mais de 30 milhões de pessoas

Atualizado em 1 de setembro de 2024 às 13:42
Policiais de folga prestam vigilância irregular para 30 milhões de pessoas. Imagem: Reprodução.

Uma pesquisa realizada pelo Datafolha revelou que 18% dos brasileiros, equivalente a mais de 30 milhões de pessoas, têm vigilância privada realizada por policiais de folga, embora seja proibida na maioria dos estados. O estudo foi feito entre 11 e 17 de junho com 2.508 pessoas maiores de 16 anos, com margem de erro de dois pontos percentuais.

A pesquisa, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pela Folha, sugere que a vigilância feita por policiais pode ser mais comum do que indicado, isso porque o levantamento perguntou especificamente sobre “a oferta de serviços de vigilância privada prestados por policiais de folga”, e é provável que boa parte dos entrevistados não saiba se os vigilantes em seus bairros são policiais do serviço ativo ou não.

“Não há dúvida que essa é uma estimativa conservadora”, escreve o cientista político Cleber Lopes, professor da Universidade Estadual de Londrina e pesquisador do Fórum, que analisou os números da pesquisa em um artigo. “Como o bico na segurança é uma atividade irregular, os policiais prestam serviços de maneira velada, isto é, sem uniforme e com a arma encoberta, o que cria dificuldades para a sua identificação pelas pessoas.”

Os dados mostram que a prática é mais prevalente em regiões metropolitanas, com 21% dos moradores relatando esse tipo de serviço, comparado a 16% no interior. Além disso, os residentes em áreas com vigilância policial privada tendem a relatar mais violência policial, com 19% tendo presenciado abordagens violentas, em contraste com 14% em outras áreas.

Em 2022, estimava-se que cerca de 600 mil pessoas trabalhavam como seguranças privadas clandestinas. Somados àqueles que estavam registrados de forma lícita, a mão-de-obra empregada pelo mercado de segurança privada chegava a 1,1 milhão de pessoas. É mais do que a soma de todas as forças de segurança pública do país, que somavam 796.180 profissionais no ano passado, de acordo com levantamento do Fórum. Ademais, sabe-se que parte deles trabalham ao mesmo tempo na segurança particular.

A prática de policiais atuarem em segurança privada paralelamente ao serviço oficial gera preocupações sobre a saúde mental dos profissionais e suas implicações para a segurança pública. Segundo Lopes, essa dupla jornada compromete a qualidade dos serviços de segurança pública, cria conflitos de interesse e aumenta o estresse dos policiais, elevando o risco de vitimização.