Policiais mortas usadas pela extrema direita para atacar Marielle foram defendidas por ela em sua tese

Atualizado em 19 de março de 2018 às 12:21
Fabiana e Alda, policiais mortas usadas para atacar Marielle

Em meio ao lixo da campanha difamatória da extrema direita contra Marielle Franco, uma montagem fotográfica com duas jovens está fazendo sucesso.

A legenda fala o seguinte: “Mulheres, negras, pobres e brutalmente assassinadas no Rio. Se você nunca ouviu falar delas, é porque não eram militantes de esquerda. Eram policiais.”

Elas são Fabiana Aparecida de Souza e Alda Rafael Castilho.

Fabiana tinha 30 anos quando foi assassinada por bandidos num ataque à UPP da Nova Brasília, no Complexo do Alemão, em julho de 2012.

Segundo o Globo, sua profissão era a realização de “um sonho que dividia com a única parente viva, a irmã Luciana, aluna do Curso de Formação de Praças (CeFaP)”.

Nascida em Rio das Flores e ex-moradora de Valença, no interior do estado, era “uma moça alegre, encantada com a nova vida”.

Alda foi alvejada durante um tiroteio na Vila Cruzeiro, na Zona Norte, em fevereiro de 2014, juntamente com um casal. 

O G1 afirma que a bala a atingiu na barriga. O R7, na cabeça. Foi levada com vida ao hospital, mas não resistiu. Tinha 27 anos.

A ideia da canalha que explora essas tragédias é mostrar que ninguém se importou com Fabiana e Alda, PMs, enquanto Marielle, esquerdista, é pranteada.

Quem está espalhando essa excrescência oportunista nunca havia ouvido falar de Alda e Fabiana. Se ouviu, não mexeu uma sobrancelha quando elas faleceram.

Houve uma pessoa, no entanto, que lembrou do drama delas e se solidarizou: Marielle Franco.

Elas são citadas em sua tese, intitulada “UPP: a redução da favela a três letras”.

Marielle escreve o seguinte à página 99:

As marcas dos homicídios não estão presentes apenas nas pesquisas, nos números, nos indicadores. Elas estão presentes sobretudo no peito de cada mãe de morador de favela ou mãe de policial que tenha perdido a vida. Nenhuma desculpa pública, seja governamental ou não, oficial ou não, é capaz de acalentar as mães que perderam seus filhos. A seguir, destacam-se dois casos ocorridos no mesmo complexo de favelas circunscritas entre Rio Comprido, Catumbi e Santa Tereza. A 15ª UPP Coroa-Fallet-Fogueteiro é marcada pela história de um policial atingido por uma granada e pela morte de um jovem, ainda no seu segundo ano de “pacificação”.

Não há como hierarquizar a dor, ou acreditar que apenas será doído para as mães de jovens favelados. O Estado bélico e militarizado é responsável pela dor que paira também nas 16 famílias dos policiais mortos desde o início das UPPs. Dentre esses mortos estão: Paulo Ricardo Fontes Carreira, 30 anos; Diego Bruno Barbosa Henriques, 25 anos; Anderson Dias Brazuna, 34 anos; Charles Thomaz Barros, 25 anos; Wagner Vieira da Cruz, 33 anos; Leonardo do Nascimento Mendes, 27 anos; Melquisedeque Bastos, 29 anos; Fabiana Aparecida de Souza, 30 anos; Alda Rafael Castilho, 27 anos; Rodrigo de Souza Paes Leme, 33 anos; Leidson Acácio Alves Silva, 27 anos; Fábio Gomes, 30 anos; Wesley dos Santos Lucas, 30 anos. Os seis últimos somente neste ano, até agosto de 2014, nas favelas pacificadas.

Os “cidadãos de bem” querem executar Marielle todo dia.

Não hesitarão em usar como munição pessoas que, eventualmente, a defenderiam — caso pudessem se defender.