Poluição plástica avança na Amazônia e atinge rios, fauna e comunidades ribeirinhas

Atualizado em 2 de novembro de 2025 às 12:42
Lixo na orla da Manaus Moderna
Lixo na orla da Manaus Moderna – André Moreira/Em Tempo

A bacia amazônica, maior reserva de água doce do mundo e distribuída por nove países da América do Sul, enfrenta crescimento acelerado da poluição plástica em seus rios, lagos e igarapés. Com informações do portal Em Tempo.

Um estudo publicado na revista científica Ambio, desenvolvido em parceria entre a Fiocruz Amazônia e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, classificou o rio Amazonas como o segundo mais poluído por plástico do planeta, responsável por aproximadamente 10% do material que chega aos oceanos.

O levantamento identificou macroplásticos, mesoplásticos, microplásticos e nanoplásticos dispersos em toda a extensão do bioma, atingindo até áreas de águas negras difíceis de monitorar.

O problema já é perceptível na rotina de ribeirinhos que vivem da pesca. Em Manaus, o pescador Antônio Vasconcelos, conhecido como Toninho, relata há anos encontrar garrafas PET e resíduos presos em malhadeiras, reduzindo a captura de peixes e comprometendo a qualidade da água.

Pescador Antônio Vasconcelos, no Lago do Aleixo, zona Leste de Manaus, olhando para a câmera, com camiseta do São Paulo
Pescador Antônio Vasconcelos, no Lago do Aleixo, zona Leste de Manaus – Duilio Cândido/Portal Em Tempo

Ele recorda a seca histórica de 2024, quando o Rio Negro atingiu 12,66 metros em outubro, sua menor marca em mais de 120 anos. O Lago do Aleixo, onde atua, se transformou em um filete de água, com odor forte decorrente da decomposição de resíduos acumulados no fundo.

Pesquisadores alertam que a falta de infraestrutura urbana e descarte irregular intensificam o problema. Na zona sul de Manaus, o igarapé do Educandos sofre com despejo de móveis, pneus e restos plásticos, agravado durante cheias, quando a água contaminada invade becos e palafitas, expondo crianças a riscos sanitários e ferimentos.

Moradores relatam aparecimento de ratos, serpentes e até jacarés atraídos pelo lixo. Outro ponto crítico é a orla da Manaus Moderna, onde caminhantes precisam pisar sobre garrafas, latas e vidro para acessar embarcações.

Na região de fronteira, o vilarejo peruano de Islândia despeja resíduos diretamente na floresta e nas margens dos rios Javari e Amazonas, contaminando águas brasileiras. Análises da Universidade Federal do Amazonas detectaram níveis elevados de coliformes fecais, gerando investimentos extras das concessionárias locais para garantir potabilidade.

Estudos também identificaram fragmentos plásticos em aves que utilizam o material na construção de ninhos, além de registros em peixes-boi, morcegos, pererecas e formigas amazônicas, evidenciando alcance terrestre e aéreo da poluição.

As partículas menores preocupam especialistas. Microplásticos, com menos de 5 milímetros, já são comuns no bioma. Nanoplásticos, invisíveis sem microscopia, possuem menos de 1 micrômetro e podem penetrar células de animais e humanos. Pesquisadores afirmam que ainda há poucas publicações sobre seus efeitos na Amazônia, mas alertam para riscos potenciais à saúde pública e à cadeia alimentar.

Para conter o avanço, a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana de Manaus instalou 11 ecobarreiras flutuantes que funcionam como peneiras, retendo cerca de 300 toneladas de resíduos por mês. Segundo o idealizador Mazinho da Ecobarreira, o volume de lixo retirado reduziu pela metade desde a implantação. As garrafas recolhidas são reaproveitadas em artesanato e decoração pública, incentivando reciclagem e geração de renda.

Porcos se alimentam do lixo trazido pela cheia dos rios
Porcos se alimentando do lixo – André Moreira/Em Tempo

No saneamento básico, a concessionária Águas de Manaus atende cerca de 30% da capital com rede de esgoto e planeja alcançar 90% até 2033, conforme o Marco Legal do Saneamento. Áreas de palafitas receberam soluções adaptadas ao movimento natural dos rios, beneficiando milhares de famílias. A empresa realiza monitoramento contínuo para evitar contaminação por microplásticos, seguindo normas do Ministério da Saúde.

A COP-30, marcada para 2025 em Belém, é vista por especialistas como oportunidade estratégica para incluir a poluição plástica na agenda global. Pesquisadores afirmam que medidas locais precisam de acordos internacionais para surtir efeito, já que rios amazônicos conectam diferentes países e desaguam no Atlântico.

Apesar da gravidade, pesquisadores acreditam que o reconhecimento científico do problema, somado à mobilização social, pode gerar avanços em políticas públicas, fiscalização e educação ambiental. Com saneamento, gestão de resíduos e monitoramento contínuo, ainda é possível preservar um dos ecossistemas mais importantes do planeta para as próximas gerações.

Jessica Alexandrino
Jessica Alexandrino é jornalista e trabalha no DCM desde 2022. Sempre gostou muito de escrever e decidiu que profissão queria seguir antes mesmo de ingressar no Ensino Médio. Tem passagens por outros portais de notícias e emissoras de TV, mas nas horas vagas gosta de viajar, assistir novelas e jogar tênis.