Pontos pouco claros do ataque imperial. Por Gilberto Maringoni

Atualizado em 3 de janeiro de 2020 às 19:05
Donald Trump fala com jornalistas em Washington — Foto: Jim Watson/ AFP

Há vários tópicos ainda obscuros no bombardeio e assassinato do general Soleimani por parte dos EUA, nesta madrugada. Aqui vão alguns deles:

1. POR QUE DONALD TRUMP – que faz um governo muito menos agressivo militarmente que o de Obama – decidiu esse ataque? Lembremos as agressões armadas dos três últimos mandatários do Império: Clinton (Balcãs, Iraque, Afeganistão e Sudão), W. Bush (Afeganistão e Iraque) e Obama (Iraque, Líbia e Síria).

2. O ATUAL PRESIDENTE DOS EUA não realizou até agora nenhuma ação militar de monta. Ao contrário: foi o primeiro presidente dos EUA a abrir negociações diretas com a Coreia do Norte e começou uma retirada de tropas do Oriente Médio. O que ele fez de agressivo se deu no jogo pesado da diplomacia: ampliação do cerco econômico a Cuba, Venezuela e Irã, aumento das pressões contra a China e ataques e boicotes a organismos da ONU.

3. A CAMPANHA ELEITORAL explica tudo? Numa ação desse tipo é preciso ver o recado que o agressor quer transmitir à região atingida e ao mundo. Possivelmente é o de que não há como se esconder dos ataques cirúrgicos dos EUA. Com base nas primeiras informações de ontem, pensei que o aeroporto de Bagdá fora destruído. Olhando as fotos, vi que não se trata disso. O drone alvejou os carros com seis ou sete mísseis certeiros e só. Ou seja, mira-se um alvo com precisão milimétrica e este é eliminado. Pergunta adicional: de onde decolou o artefato?

4. AS PROCLAMAS ALTISSONANTES das autoridades iranianas me parecem mais jogo de cena. Qual a real possibilidade de haver uma retaliação diante de um poder bélico desproporcionalmente maior? Fecharão o estreito de Ormuz? Tecnicamente, não é complicado bloquear uma distância de 54 km. Politicamente é. Contarão com apoio regional?

5. PARA ALÉM DAS NOTAS DE SOLIDARIEDADE, Rússia e China tomarão alguma atitude? Aqui não há risco iminente à segurança energética chinesa, semelhante à que haveria diante de uma hipotética queda de Nicolás Maduro. Os interesses sino-russos são de natureza geopolítica, mas não têm a mesma base de interesses que tais países têm na Venezuela. Ali, parte da PDVSA e das reservas do óleo no subsolo são chinesas e a Rússia tem seu principal show room da indústria bélica no Ocidente.

6. SE ESTIVÉSSEMOS DIANTE DE PURA VINGANÇA à morte dos 26 americanos há alguns dias, a retaliação – ou aviso – poderia ser realizado numa ação contra uma base militar ou a um poço de petróleo. Não. O ataque foi personalizado na cúpula do poder iraniano, em terras iraquianas (parece haver um sentido duplo aqui). Aqui valeu a máxima maquiavélica: fazer o mal de uma só vez. E fazer um mal de dimensões gigantescas.

7. NANCY PELOSI – a presidenta democrata da Câmara – condenou o ataque. É algo digno de nota. Mesmo sabendo de quem se trata, não parece estar havendo uma união nacional contra o inimigo externo nos EUA. Este tem sido o maior objetivo interno das intervenções estadunidenses pelo mundo no último século. Como fica a opinião pública? E na comunidade internacional? Como ficam os aliados da OTAN?

Talvez saibamos grande parte das respostas nas próximas horas..