
A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) aprovou nesta quinta-feira (23) o rompimento de seu convênio acadêmico com a Universidade de Haifa, em Israel. A decisão, tomada por maioria na congregação da unidade, foi justificada como um gesto de repúdio à política do governo de Netanyahu em relação à Palestina e à crise humanitária na Faixa de Gaza.
Trata-se da primeira faculdade da USP a adotar uma medida dessa natureza. Segundo o diretor da FFLCH, Ádrian Fanjul, a decisão tem caráter simbólico e não afeta programas de intercâmbio, que não existem entre as duas instituições.
“O agravamento dos crimes em Gaza me levou, com muito desgosto, a concordar com a necessidade deste gesto. São práticas sádicas, como matar de fome pessoas que saem desesperadas atrás de alimento”, afirmou Fanjul durante a sessão.
O rompimento ocorre em meio a um cenário internacional de críticas à ofensiva israelense em Gaza, que segundo a ONU levou a região a uma situação de fome generalizada.
Em agosto, o órgão declarou oficialmente um quadro de “fome em massa”, a primeira vez que essa classificação foi aplicada a um território do Oriente Médio. A estimativa é de que cerca de 500 mil palestinos enfrentem condições humanitárias catastróficas.

Com a decisão, a FFLCH se junta a outras universidades brasileiras que já haviam adotado medidas semelhantes, como a UFF (Universidade Federal Fluminense), a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a UFC (Universidade Federal do Ceará) e a Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Nessas instituições, o rompimento de cooperações técnicas com universidades israelenses foi apresentado como uma forma de protesto contra as ações do governo Netanyahu. O tema vinha sendo debatido internamente na FFLCH desde o ano passado, com forte mobilização de alunos e docentes favoráveis ao rompimento.
Entre os argumentos, estavam as denúncias de violações de direitos humanos e o impacto dos ataques em escolas e universidades palestinas. O movimento ganhou força após a intensificação dos bombardeios em Gaza e o aumento das mortes de civis.
Nem todos, no entanto, concordaram com a decisão. Alunos do curso de hebraico manifestaram preocupação com o impacto da medida, alegando que ela poderia prejudicar o contato acadêmico e cultural com instituições israelenses. A congregação, no entanto, avaliou que o convênio não incluía atividades efetivas de intercâmbio e, portanto, não haveria prejuízo direto para os estudantes.
Durante a reunião, representantes da faculdade também aprovaram o envio de uma proposta ao Conselho Universitário da USP, órgão máximo da instituição, pedindo que o rompimento de cooperações com universidades israelenses seja estendido a todas as unidades da universidade.