Por que a Alemanha não quer investir no fundo de florestas criado por Lula

Atualizado em 10 de novembro de 2025 às 13:18
O chanceler alemão Friedrich Merz e o presidente Lula durante a COP30. Foto: Divulgação

O chanceler alemão Friedrich Merz deixou o Brasil após a Cúpula dos Líderes que antecedeu a abertura da COP30 sem assumir qualquer compromisso com o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF).

Fontes da diplomacia alemã explicam que Berlim considera haver riscos financeiros relevantes na proposta apresentada pelo governo brasileiro em parceria com o Banco Mundial. O TFFF busca criar uma estrutura global de financiamento para conservação de florestas tropicais.

O desenho prevê captar US$ 25 bilhões de governos e outros US$ 100 bilhões do setor privado. Esses recursos seriam direcionados a fundos de renda fixa de países emergentes, com o objetivo de gerar rendimentos que seriam repartidos entre os investidores e a proteção das florestas.

Diplomatas envolvidos nas negociações afirmam que pontos técnicos ainda precisam de ajustes para mitigar riscos. Esse é o mesmo argumento que, segundo interlocutores estrangeiros, levou o Reino Unido a suspender um anúncio de aporte. Brasil e Banco Mundial esperavam que Alemanha e Reino Unido fossem os primeiros grandes financiadores externos do fundo.

O governo brasileiro contava com um anúncio de Berlim durante o almoço oficial que marcou o lançamento da iniciativa na quinta-feira passada, em Belém. Com a ausência de números, a expectativa se voltou para a reunião bilateral entre Merz e o presidente Lula no dia seguinte, mas o encontro terminou sem qualquer valor definido.

O chanceler alemão Friedrich Merz e o presidente Lula durante a COP30. Foto: Divulgação

Integrantes do governo alemão dizem que a falta de anúncio já era esperada e havia sido comunicada previamente ao Brasil. Segundo essas fontes, não houve mudança de posição de última hora, apenas a manutenção de uma postura cautelosa da área econômica de Berlim.

Essa cautela também reflete críticas de especialistas, como o economista alemão Max Alexander Matthey, cujo doutorado discute modelos de financiamento climático. Ele e seu orientador, Aidan Hollis, da Universidade de Calgary, publicaram textos ao longo do ano questionando a premissa central do TFFF: a expectativa de retornos contínuos entre 7% e 8% em renda fixa, suficientes para pagar 4% aos investidores e ainda reservar 3% às florestas.

A avaliação dos dois é que, em cenários de instabilidade global, os títulos podem render menos que o necessário para devolver o dinheiro de países doadores, que recebem apenas depois dos investidores privados. Isso criaria um duplo risco: perdas para governos e ausência total de repasse para conservação florestal, colocada por último na ordem de pagamento.

A Alemanha é uma das principais apoiadoras do Fundo Amazônia, projeto que inspirou o novo mecanismo. Já a Noruega, que anunciou US$ 3 bilhões para o TFFF, condicionou o repasse a um limite: sua participação não poderá ultrapassar 20% do total arrecadado.

O dinheiro só entra quando o fundo superar US$ 12 bilhões. Hoje, com aportes iniciais do Brasil (US$ 1 bilhão), Indonésia (US$ 1 bilhão) e França (500 milhões de euros), o TFFF ainda está distante do montante mínimo para operar. Apesar disso, o Planalto tenta manter o otimismo e mira levantar US$ 10 bilhões no prazo de um ano para dar início à emissão dos primeiros títulos.

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.