Por que “A Baleia” e “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” vão levar a melhor no Oscar

Atualizado em 11 de março de 2023 às 23:26
Michelle Yeoh em “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”

Sim, você vai dizer que é maluquice o que eu inventei agora. A história é a seguinte: ontem em uma tacada só vi dois filmes indicados ao Oscar 2023. Tirei o final da tarde e madrugada adentro para essa minimaratona cinéfila.

Pois bem, “A Baleia“ é um filme piegas, cujo protagonista, Brendan Fraser, é o maior indicado ao Oscar de melhor ator em 2023. Ele teve peito para engordar realmente e com ajuda de maquiagem adicionar mais massa adiposa e vivenciar um personagem de 270 quilos, sorvendo os  dramas dignos de uma pessoa nesse nível de desequilíbrio físico e mental.

Solitário e constantemente assombrado por um passado de escolhas dramáticas.

A abordagem é superficial em relação a uma questão tão delicada quanto a obesidade mórbida em um país excludente e profundamente preconceituoso como os USA.

Mas é um bom retrato das frustrações clássicas da sociedade americana junk food. Culpa e castigo bíblico explícito, meio angustiante.

O outro filme que acabei assistindo na sequência foi “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”.

Encantadora a liberdade e o nonsense dignos de uma cabeça de criança entre 8/9 anos de idade.

Um liquidificador de emoções a cada respiração de seus ricos personagens.

Ali temos uma atuação exuberante de Michelle Yeoh e o renascimento de Jamie Lee Curtis para o Cinema. O Filme é Destaque no Oscar com 11 indicações.

A produção está na disputa pelos prêmios de Melhor Filme, Melhor Atriz (Michelle Yeoh), Melhor Diretor (Daniel Kwan e Daniel Scheinert), Melhor Roteiro Original (Daniel Kwan e Daniel Scheinert), Melhor Figurino (Shirley Kurata), Melhor Montagem (Paul Rogers), Melhor Ator Coadjuvante (Ke Huy Quan), Melhor Atriz Coadjuvante (Jamie Lee Curtis e Stephanie Hsu), Melhor Trilha Sonora Original (Son Lux) e Melhor Canção Original (‘This Is A Life’).

Brendan Fraser em “A Baleia”

Uma experiência cinematográfica, diversão garantida em vários planos e dimensões.

E é aí que entra a minha epifania da noite: os dois filmes se relacionam muito bem.

O cinema americano e sua sociedade estão em movimento de revisão de valores, a indústria cinematográfica entendeu que não adianta viver só de super-heróis enquanto o mundo real está pulsando, querendo ser representado e visto.

Do professor de inglês com obesidade mórbida encalacrado em uma sala até a imigrante chinesa dona de uma lavanderia que é tiranizada por uma agente da receita federal que lhe proporcionou um surto psicótico.

A imigrante vivenciava uma realidade tão brutal que se refugiar nos delirantes devaneios era mais confortável para a personagem.

Mais um resultado dos maus-tratos americanos em seu modelo ultraconsumista, que transforma seus excluídos em pó ou carne moída descartável ao uso comum.

A interseção dos dois filmes fica por conta de uma máxima muito antiga e muito usada pela bossa-nova na voz de João Gilberto: “Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”.