Por que a casa onde Hitler nasceu ainda dá dor de cabeça à Áustria

Atualizado em 30 de dezembro de 2014 às 9:24

hitler

Publicado na BBC Brasil.

 

O que fazer com a casa onde Hitler nasceu?

Por anos o edifício na cidade austríaca de Braunau am Inn tem sido alugado pelo Ministério do Interior com o objetivo de evitar que o local se transforme em um centro de peregrinação neonazista.

Ele já foi usado como centro de tratamento de deficientes físicos, mas atualmente está vazio porque o dono não concordou com os planos que o governo tinha para seu uso futuro.

 

Braunau am Inn é uma pequena cidade que fica no norte da Áustria, próximo a fronteira com a Alemanha. Mas ela carrega um legado pesado.

Próximo da praça principal está o edifício Salzburger Vorstadt, número 15, uma sólida pousada do século 17 onde Adolf Hitler nasceu em 1889.

A família dele, que não é originária de Braunau, alugava um quarto no andar superior da construção.

Seu pai, Alois, havia sido enviado para lá para trabalhar como funcionário da alfândega.

 

Hitler viveu no imóvel por apenas algumas semanas, antes que sua família se mudasse para outro endereço, na mesma cidade.

Eles deixaram Braunau quando Hitler tinha apenas três anos. E ele só retornaria à cidade em 1938, em seu caminho para Vienna, após ter anexado a Áustria para a Alemanha Nazista.

Moradores da região, porém, dizem que a casa ainda atrai simpatizantes neonazistas.

“Já vi pessoas da Itália e da França visitando (esse edifício) com o intuito de fazer adoração”, diz Josef Kogler, um professor de Braunau.

“Um francês – acho que era professor de história – me perguntou pelo local de nascimento de Hitler. É difícil de entender.”

Redução de danos

Atualmente a casa está trancada e vazia.

O Ministério do Interior estava tão preocupado com a possibilidade de que neonazistas pudessem usar o prédio como centro de peregrinação que, desde 1972, vinha alugando o local para evitar abusos.

A proprietária, Gerlinde Pommer, recebe quase 5 mil euros (R$16.300) por mês de aluguel, segundo autoridades locais.

O edifício foi usado para tratamento de deficientes físicos até 2011, quando a unidade responsável pelo projeto se mudou para outro endereço.

Segundo o historiador Florian Kotanko, porém, Pommer não aceitará renovar o contrato.

“Ela não aceitará nenhuma proposta para mudar a casa, para que seja usada como escritório ou para outros propósitos”, diz ele.

“Como ela não permite reformas, ninguém pode remodelar nenhum quarto, instalar banheiros modernos ou colocar um elevador. É difícil”.

Nos últimos anos foram feitas várias propostas para dar novo uso ao edifício.

Uma delas seria transformá-lo em diversos apartamentos. Outra, instalar no local um centro de educação para adultos, um museu ou uma organização para confrontar o passado nazista da região.

Um parlamentar russo chegou a tentar comprar a casa com o objetivo de implodí-la.

Com nenhum acordo em vista, o Ministério do Interior recentemente fez um apelo para todos os outros órgãos regionais e federais ajudarem a decidir o que será feito do local.

De acordo com o vice-prefeito de Braunau, Guenter Pointner, do partido Social Democrata, o ministério está considerando terminar o contrato.

Pommer não foi encontrada para comentar o caso.

Herança

A polêmica sobre a casa despertou lembranças desconfortáveis para a pequena e próspera cidade de Braunau.

Muitos – incluindo o segundo vice-prefeito Christian Schilcher, do direitista Partido da Liberdade – pensam que é hora de seguir adiante, deixando as lembranças para trás.

“As pessoas estão cansadas”, diz.”Esse tema é um problema para a imagem de Braunau. Queremos ser uma cidade pequena e bonita, com turistas e visitantes. Nós não somos filhos de Hitler.”

Outros, como Florian Kotanko, dizem que ignorar a história deixa as coisas piores.

“Há uma conexão entre Braunau e Hitler mesmo sem a casa. Qualquer pessoa pode ler que Hitler nasceu aqui”, diz Kotanko.

De fato, Braunau agora faz planos para organizar uma exibição no museu local sobre a casa e suas conexões com Hitler.

“As pessoas se recusavam a comentar esses fatos… mas agora elas estão mais dispostas a falar”, conta o historiador.

“É uma questão de como lidar com essa herança.”