Por que a inflação não cai no mundo e no Brasil após a pandemia

Atualizado em 31 de março de 2025 às 11:43
Homem em supermercado durante a pandemia de Covid-19. Foto: Reprodução

Antes da pandemia de Covid-19, os países de todo o mundo viviam com preços estáveis, inflação baixa e taxas de juros próximas de zero. A crise sanitária, no entanto, mudou esse cenário radicalmente em poucas semanas.

Inicialmente, o mundo sofreu uma desaceleração, com queda rápida nos preços, mas os preços explodiram em quase todos os lugares do planeta após o fim dos lockdowns. A inflação disparou em economias emergentes e em países ricos.

O Brasil, pré-pandemia, tinha uma inflação próxima de 4,5% e uma taxa de juros abaixo de 7%, mas os números passaram a 12,13% e 13,75% em 2022. Nos Estados Unidos, as taxas foram de 2,5% parra 9,1% e 0,25% para 5,5% no período.

O Fed (Federal Reserve), o banco central americano, tem sido usado por analistas como um dos termômetros mundiais. Alguns cortes na taxa de juros foram feitos, mas num ritmo lento, e no último mês a instituição aumentou o número, subindo de 4,25% para 4,5%.

A inflação segue acima dos patamares pré-pandemia, mas caiu de forma rápida em alguns locais. Joseph Gagnon, do Peterson Institute for Internacional Economics (PIIE), apontou que a demora para a queda até o degrau pré-crise sanitária se dá por um efeito de transmissão de preços.

“Trazer a inflação de 8% ou 9% para menos de 3% até que aconteceu mais rápido do que qualquer um imaginava. Mas voltar de 3% para 2% está demorando mais”, afirmou à BBC Brasil. A alta de setores como alimentos, energia e serviços, provocou uma disparada na pandemia, que faz com que a inflação continue subindo mesmo após a estabilidade dos três.

A tendência é que a inflação só caia após alguns anos, quando essa inércia se dissipar. Um dos efeitos do período prolongado de inflação é impedir que o poder de compra dos americanos não suba tanto quanto a alta registrada antes da pandemia.

“Em um ano normal, quando a inflação era de 2%, os salários costumavam crescer 3% — cerca de um ponto percentual acima da inflação. Mas isso não está acontecendo nesses últimos quatro ou cinco anos de inflação da covid”, prossegue Gagnon. Ele afirma que os salários deveriam ter crescido cinco pontos percentuais no período.

Loja da rede Publix, um dos supermercados mais visitados nos Estados Unidos. Foto: Divulgação

Segundo economistas, a inflação no mundo é um desafio que todos os governos têm no momento. A expectativa de preços, que determina o preço da inflação, também é influenciada pelo tamanho da dívida do governo, que pode recorrer à emissão de mais moedas, o que geraria uma desvalorização delas diante de bens e serviços.

A economista Zeina Latif, da Gibraltar Consulting, afirma que esse é o “ponto essencial” da discussão sobre a inflação no mundo. “Essa agenda de consolidação fiscal é um debate no mundo. Se as dívidas do país estão em outro patamar, o nível dos juros vai estar em outro nível também”, aponta.

Gagnon afirma que o governo dos Estados Unidos não tem “nenhuma disciplina fiscal” e que o déficit orçamentário é de 6% do PIB (Produto Interno Bruto) do país, número considerado “muito grande para um país com pleno emprego e sem recessão”.

“É quase inédito que na ausência de uma guerra ou recessão, o déficit orçamentário estaria nesse patamar. E não há perspectiva de que o Congresso vá reduzir seus gastos”, aponta.

A Europa também tem sofrido com problemas orçamentários. Alguns países pareciam estar se encaminhando para a volta dos níveis de inflação pré-pandemia, mas mudanças geopolíticas, como a volta de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, ao poder, fazem com que o gasto em segurança aumente.

Latif avalia que os gastos contraídos pelos governos durante a pandemia, com estímulos para alguns setores e pessoas afetadas, fez aumentar os problemas fiscais dos governos. “O Brasil gastou mais de 8% do PIB em 2020 em estímulos fiscais só no governo federal. Na época, o FMI [Fundo Monetário Internacional] tinha soltado um número que a média do mundo emergente tinha sido de 3,5%”, afirma.

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