A Lava Jato fracassou. Ponto. Exclamação.
Para que isso não ocorresse, ela teria que ser percebida, consensualmente, como uma operação apartidária, isenta politicamente e, numa palavra, justa.
Não é o que aconteceu.
A atuação da Lava Jato fez, não por acaso, o juiz Sérgio Moro se tornar ídolo de radicais que vão às ruas pedir o impeachment ou mesmo a intervenção militar.
É comum ver faixas pró-Moro nos protestos.
Também não por acaso, Moro ganhou instantaneamente o apoio empolgado da mídia. A direita protege os seus. Podemos dizer assim: Moro é tão isento e apartidário quanto à imprensa.
No campo oposto, os progressistas detestam Moro. Mais uma vez, como sempre, não por acaso – mas pelo conjunto de atitudes.
Num país dramaticamente polarizado, Moro é mais um fator de divisão e discórdia.
Entre os progressistas não estão apenas os petistas, é importante dizer. Boa parte dos advogados que nesta semana deram marretadas na Lava Jato – “neoinquisição” foi apenas uma delas – não tem vínculo com o PT.
Muitas coisas contribuíram para que Moro fosse visto como um juiz com lado. Jamais se soube de um só ato seu para investigar e punir vazamentos sempre enviesados, alguns dos quais simplesmente criminosos.
O pior vazamento veio na véspera das eleições, e contribuiu fortemente para a causa de Aécio. Segundo o vazamento, desmentido mais tarde pela realidade crua dos fatos, um delator disse que Lula e Dilma sabiam de tudo do Petrolão.
Isso foi para a capa da Veja, e serviu em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, como peça de propaganda para Aécio e, mais ainda, como um instrumento para tirar votos de Dilma.
O depoimento de Youssef, quando conhecido, mostrou que ele jamais dissera aquilo. Mas a eleição já passara, e esse crime, no qual se associaram vazadores da Lava Jato e a Veja, ficou impune.
Com o correr dos dias, Moro deixou de guardar até as aparências. Aceitou o inaceitável: um prêmio da mídia, especificamente da Globo.
Justiça e imprensa devem manter rigorosa distância para se autofiscalizar, mas Moro simplesmente ignorou isso.
Mais recentemente, aceitou outro convite inaceitável, este da Abril, para ser a estrela de um encontro das editoras de revistas.
Deu um passo além: compareceu a um evento organizado por João Dória, um dos líderes do PSDB em São Paulo. Posou sorridente, sem cerimônia, ao lado de Dória.
Do ponto de vista da simbologia, tudo isso não poderia ser pior. Moro se caracterizou como um soldado não apenas do PSDB mas, mais que isso, da plutocracia.
Em nenhuma sociedade avançada você vê cenas como estas, em que um juiz com tamanho poder confraterniza com a mídia e com um partido em situação tão dramática.
Moro, e com ele a Lava Jato, deixou também a sensação de que fala alto com aqueles que a mídia quer ver triturados e baixo com quem tem poder.
Eduardo Cunha é um caso. Nada aconteceu com ele e a mulher depois que a Suíça forneceu, já há meses, provas espetaculares contra o casal. (Cunha tem privilégios legais indecentes por ser deputado, mas ela não.)
A Lava Jato acabou se caracterizando não como uma operação universalmente contra a corrupção. Mas como uma ação específica contra determinado grupo.
Por isso fracassou. Agisse de forma imparcial, poderia ser respeitada e até admirada.
Mas não foi isso que aconteceu.