O que um dramalhão meia-boca conta sobre o estado da teledramaturgia global.
A Globo comemora o sucesso da série Revenge, que passa aos domingos depois do Fantástico. A estreia teve 15 pontos no Ibope (o segundo colocado, SBT, ficou com 11).
Revenge é uma história de vingança. Emily Thorne aluga uma casa nos Hamptons, o balneário chique perto de Nova York. Emily, que já tinha estado lá quando criança, na verdade é Amanda Clarke, cujo pai foi preso por um crime que não cometeu, acusado pelos vizinhos. Ela nunca mais o viu e quer dar o troco. O alvo principal de seu ódio é Victoria Grayson, matriarca de uma família rica, e pela qual seu pai foi apaixonado.
É uma soap opera clássica. Não chega aos pés de séries dramáticas como, digamos, Boardwalk Empire, Mad Men, Breaking Bad etc. Mas, ainda assim, é superior a qualquer novela da Globo. Não à toa, está gerando mais barulho do que a nova das 7, Sangue Bom.
A Globo está promovendo Revenge intensamente, como se fosse uma grande novidade. Não é. Produzida pelo canal ABC, a primeira temporada é de 2011. A Sony começou a passar no ano passado e fez uma campanha ridicularizando o “atraso” da emissora carioca, comparando-a ao Orkut, a velha rede social que virou um pântano.
O que isso mostra? Fora a lentidão e a miopia, que uma televisão que gasta milhões com “núcleos” de dramaturgia, atores obscenamente bem pagos e um estúdio como o Projac não é capaz de fazer uma nova novela ser notada. Revenge está longe de ser uma beleza, mas é bem menos confusa e burra do que, por exemplo, Salve Jorge.
Volta e meia, autores internacionais são trazidos para fazer workshops no Brasil. A última foi a criadora de Friends, que criticou o modelo das telenovelas para grupos de roteiristas. O resultado? Zero. Novelas e outros produtos de ficção da Globo têm cada vez menos público, menos relevância e menos qualidade. Qualquer pessoa com acesso a canais de internet ou cabo sabe disso.
Ao comprar os direitos de Revenge, a Globo talvez tenha feito um bom negócio – certamente é muito mais barato do que qualquer coisa feita aqui. Mas é, paradoxalmente, e por comparação, uma admissão retumbante das suas próprias fragilidades.