Por que uma revista como a Caras teve um aumento de 2 472,9% de verba do governo. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 2 de outubro de 2016 às 11:04
Giancarlo Civita, Temer e o presidente da Abril, Walter Longo, em evento da Exame
Giancarlo Civita, Temer e o presidente da Abril, Walter Longo, em evento da Exame

 

O dado que se destaca no excelente levantamento do Cafezinho, do Miguel do Rosário, sobre as verbas de publicidade do governo Temer para a mídia que apoiou o golpe é o “investimento” na Editora Caras.

Percentualmente, é o aumento mais expressivo entre todos: saltou de 60 479 reais, de janeiro a dezembro de 2015, para 1 556 077 reais.

Uma variação de 2 472,9%, como se vê abaixo.

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Miguel registra que os períodos comparados são distintos. “Se formos considerar a média mensal dos repasses à Caras, o aumento seria muito maior, de 3.760%!”, diz.

A Abril, por outro lado, foi de 52 mil reais para 380 770 mil, um incremento de 624%.

Em ambos os casos, o dinheiro vai para o mesmo bolso: o da família Civita, sócia do empresário argentino Jorge Fontevecchia na Caras.

A biografia de Roberto Civita, de autoria de Carlos Maranhão (meu saudoso ex-chefe), conta que “a cada ano, os sócios Fontevecchia e Roberto faziam o que chamavam de ‘encontro turístico-filosófico-empresarial’ com o objetivo de trocar ideias e discutir durante quatro dias seus negócios”.

O repasse na Caras é, à primeira vista, estranho. Uma explicação poderia ser que isso vai financiar a baciada de revistas “transferidas” da Abril para lá, tranqueiras como “Bons Fluidos”, “Manequim”, “Máxima”, “Sou+Eu”, “Vida Simples” e “Viva Mais”.

Fontevecchia, Thomaz Souto Corrêa e Roberto Civita (reprodução do livro "O Dono da Banca")
Fontevecchia, Thomaz Souto Corrêa e Roberto Civita (reprodução do livro “O Dono da Banca”)

Não faz sentido porque a dinheirama está toda no título principal da casa. Um dos efeitos óbvios vão ser capas e capas sobre Marcela Temer abrindo sua casa e as festas de Michelzinho.

A questão é que não tem critério. É o acerto do butim. Tanto faz como ele é feito, o importante é pingar na conta de quem de direito. Quem precisa de explicações são os outros.

Montado nesses gastos absurdos com os amigos, na semana passada Temer estava num fórum da revista Exame, com Giancarlo Civita, jogando a crise na conta da herança maldita do PT. “Reitero que não foi culpa minha”, discursou.

Fica mais claro, agora, do que tratava o “desabafo” de Faustão sobre a “comunicação do governo” e a subsequente ligação do sabujo Michel para o apresentador. Se não se coçar, não vai ter sossego.

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As matérias do Cafezinho:

Temer iniciar trem da alegria para a mídia do golpe

Trem da alegria 2: verba publicitária para revista Época cresce 900% e para o jornal O Globo, 230%