Por que a tag #MeuAmigoSecreto viralizou? Por Nathalí Macedo

A tag #MeuAmigoSecreto tem feito um sucesso viral no facebook. Trata-se de uma campanha criada pelas mulheres – ainda não se sabe quem foi a precursora da ideia – para que denunciem na rede seus amigos machistas/racistas/homofóbicos.

Há quem diga que é mais uma modinha facebookiana, mas, para quem compreende o momento crucial de levante das mulheres que se vivencia atualmente no Brasil, é muito mais do que isso.

Desde o início da campanha – na última terça-feira, mais precisamente – já fiz algumas postagens com a tag na minha página pessoal no Facebook. Em uma delas uma amiga feminista comentou: “Essa opressão é nova para mim! Não conhecia.” E isso fez com que me caísse de vez a ficha sobre a importância deste movimento: mais do que denunciar os amigos machistas – que se sentem expostos e envergonhados – nós estamos compartilhando umas com as outras as milhares formas de opressão que têm se revelado em nossas vidas: é uma maneira ímpar de comunicação e de empoderamento.

Ainda hoje, uma conhecida – que antes se posicionava contrária ao feminismo como forma de parecer “descolada” aos olhos dos homens por quem se interessava, fez uma postagem feminista com a tag #meuamigosecreto. Não consigo explicar a alegria que me invadiu ao aquilo que para qualquer um pode parecer uma simples atualização de status, mas, para mim, é claramente uma mulher se empoderando através das redes sociais.

Isso significa, decerto, que a popularização do feminismo na rede tem recrutado milhões de adeptas ao movimento. E, embora não se possa mudar o mundo através das redes sociais, estou certa de que elas são uma ferramenta providencial de dissipação de ideias, uma maneira moderníssima de organização de movimentos sociais com efeitos práticos inegáveis. A minha amiga nova feminista é uma prova disto.

A viralização do feminismo tem incomodado muita gente. Ser feminista é pop, virou modinha. O feminismo está em alta nas ruas, nas artes e nas redes sociais. Ultrapassado, agora, é ser machista, homofóbico, opressor, reacionário – e que bom por isso!

Nós não encabeçamos este movimento para sermos descoladas, diferentes e prafrentex. Não nos interessa sermos vistas como “aquelas que pensam diferente”. Aliás, sonho com o dia em que toda luta por igualdade vire moda. Em que o racismo seja tão brega quanto o machismo tem se tornado nestes tempos. Que o feminismo modinha, e muito, muitíssimo popular.

E a quem tem achado esta campanha – e todas as outras campanhas feministas nas redes sociais – chatas e vitimistas, receio que isto seja só o começo. Muitas outras surgirão até que nos eduquemos e compreendamos: pedir igualdade definitivamente não é pedir muito.

Postem os seus amigos machistas para que eles compreendam que discursos opressores não têm mais lugar no mundo. O mundo exige pacifismo, mas a igualdade – tão renegada nestes tempos difíceis – exige luta. E se é preciso colocar o dedo na ferida dos homens para que eles compreendam os seus privilégios e se posicionem, paciência.

Nathalí Macedo

Escritora, roteirista, militante feminista, mestranda em Cultura e Arte. Canta blues nas horas vagas.

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Nathalí Macedo

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