Destaques

Por que Ana Hickmann tolerou anos de abusos de um bolsonarista violento. Por Nathalí

Ana Hickmann e o marido Alexandre Correa

Existe um tipo de agressor muito comum em nossa sociedade, desde talvez os tempos das nossas bisavós: a figura acima de qualquer suspeita.

O homem aparentemente íntegro e que consegue ganhar a confiança das pessoas com a boa e velha pompa, um cavalheiro, um protetor, um cidadão de bem, enfim.

Já o segundo tipo, o agressor que não faz questão de esconder sua postura violenta e é tacitamente perdoado uma vida inteira pelas pessoas ao seu entorno, e, se for uma pessoa pública, pelo próprio público em geral.

Ana Hickmann é mais uma vítima desse segundo tipo.  Seu marido Alexandre Correa abusava da esposa há anos, sob a vista grossa do público e da grande mídia. Tudo documentado nas redes sociais.

Não é novidade que um bolsonarista ataque a própria esposa: oprimir mulheres em diversos graus é uma praxe dos seguidores de Jair Bolsonaro, inclusive com agressões físicas.

Muito machucada, a apresentadora prestou queixa contra o marido. Em seguida, viralizou um vídeo de uma briga do ex-casal, em que o agressor falava em tom de ameaça: “é a última vez que falo com você.”

O comportamento de Alexandre, que socialmente não fazia questão de necessariamente esconder a maneira como via a esposa, certamente contava com a impunidade.

Fato é que, embora quase ninguém esteja prestando atenção, essas mulheres dão sinais.

Sinais de vergonha de denunciar seus parceiros agressores, marcas de agressão física, prejuízos nítidos à saúde mental e comportamento comedido.

Ana já apareceu com machucados pelo corpo e inventou diversas justificativas como queda de cavalo ou acidente doméstico.

E ainda há quem diga que, se a mulher “aceita” apanhar, é porque gosta. Isso nunca fez o menor sentido porque ninguém gosta de apanhar – talvez só em momentos muito específicos.

As mulheres agredidas não denunciam por medo de parceiros com discurso ameaçador, co-dependência alimentada pelo próprio agressor, receio (totalmente válido) de serem violentadas novamente pelo poder judiciário, no qual uma juíza ainda tenta obrigar uma criança – como esquecer? – parir de seu estuprador.

Abuso sexual contra mulheres é uma piada no Brasil. Quando há justiça, é depois de muito tempo e de muita comoção social.

O caso do goleiro Bruno, por exemplo, diz muito sobre o assunto. E os tantos casos denunciados sem solução, por mulheres pobres e ricas, amélias ou femmes fatales, não existe exceção ou lugar seguro para nós, porque no próprio casamento (na maioria das vezes) estamos expostas a agressões de todas as ordens.

Que a denúncia de Ana Hickmann sirva para encorajar outras mulheres agredidas, apesar dos tantos percalços.

Nathalí Macedo

Escritora, roteirista, militante feminista, mestranda em Cultura e Arte. Canta blues nas horas vagas.

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Nathalí Macedo

Recent Posts

VÍDEO: reação de jornalista ao escutar baboseiras de Leite no Roda Viva viraliza nas redes

A reação da jornalista Kelly Matos, da Rádio Gaúcha, ao ouvir as baboseiras do governador…

10 minutos ago

Eduardo Leite tenta largar uma granada no colo de Paulo Pimenta. Por Moisés Mendes

Eduardo Leite se recuperou, no Roda Viva, do fracasso das duas entrevistas que havia dado…

54 minutos ago

“Fora, Leite”: governador do RS cresce em popularidade digital, mas é escrachado na web

Em meio à tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite…

1 hora ago

Liberdade de expressão: Brasil dispara em ranking após saída de Bolsonaro e volta de Lula ao poder

O Brasil teve um avanço significativo em um relatório sobre liberdade de expressão após a…

2 horas ago

França apoia pedido de prisão contra Netanyahu e líderes do Hamas

A França demonstrou apoio a, Karim Khan, procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), que pediu…

2 horas ago

Moro, Valdemar e Tarcísio: o racha no PL, partido de Bolsonaro

Uma disputa entre Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e Jair Bolsonaro resultou em uma…

2 horas ago