
E eis que Julian Assange, do Wikileaks, é indicado para o Nobel da Paz por um político da Noruega.
É um gesto meramente simbólico. É simplesmente impossível Assange ser premiado. Não apenas porque enfrenta uma questão jurídica complexa na Suécia, a pátria do Nobel, como porque a influência americana na premiação é enorme.
Se você olha a lista dos homens que ganharam o Nobel da Paz tem vontade de rir e vomitar ao mesmo tempo. Theodore Roosevelt, um presidente americano que jamais conseguiu lidar com o fato de seu pai ter evitado se alistar numa guerra pagando outro homem para lutar em seu lugar, foi Nobel da Paz. A covardia paterna foi tão dura para Roosevelt que ele compensou-a depois como presidente dando aos Estados Unidos um caráter brutalmente bélico.
Roosevelt dizia que uma nação que fica em paz muito tempo perde a virilidade, e se gabava de ter matado com as próprias mãos um inimigo numa batalha.
Obama – a grande decepção planetária deste início de século – também levou o Nobel da Paz quando tudo que fez por ela foi mandar bombas para o Oriente Médio e desmoralizar celeremente as esperanças de uma nova atitude americana diante do mundo.
E enquanto presidentes americanos vão ganhando o prêmio gente como Ghandi é desprezada.
Assange não é Ghandi, mas se alguém tem feito alguma coisa para melhorar o mundo é ele com o Wikileaks. Quem teme o Wikileaks são governos e corporações corruptas. O vídeo que mostra soldados americanos num helicóptero matando por engano gente nas ruas do Iraque – o primeiro grande feito de alcance mundial do Wikileaks – é simplesmente histórico. É um manifesto extraordinário contra a guerra.
Nenhuma publicação – New York Times, Washington Post etc – fez nada parecido em décadas em termos de alcance e repercussão. Daí, em boa parte, o ressentimento que muitos jornalistas da “elite”, como o editor executivo do NY Times Bill Keller, guardam de Assange. É que eles parecem nanicos diante do que o Wikileaks vem fazendo.
O forte de Assange é o idealismo. Não o idealismo romântico, mas o idealismo prático de quem faz acontecerem coisas para mudar a situação.
O fraco, sabemos, são as mulheres.
Mas isso não é motivo para ele não levar o Nobel da Paz. Ele será ignorado pelor organizadores apenas porque contraria os interesses americanos – ainda poderosos, apesar do declínio do império.