
Divulgado na última terça-feira (26), o relatório final da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022 revela que Jair Bolsonaro (PL) pode ter desistido de publicar um decreto golpista ao perceber que parte da cúpula militar não apoiaria a intentona. A decisão teria sido motivada pelo receio de terminar preso, como ocorreu com o ex-presidente do Peru, Pedro Castillo, em dezembro do mesmo ano, após dissolver o Congresso e fracassar em sua tentativa de golpe.
A informação consta em diálogos obtidos pela PF entre o tenente-coronel Sérgio Cavaliere, do “núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral”, e o coronel Gustavo Gomes.
Em 20 de dezembro de 2022, Cavaliere relatou, em áudio, que Bolsonaro recuou porque apenas a Marinha teria aderido ao plano, enquanto o Exército e a Aeronáutica se posicionaram contra. “A Marinha aceitou, mas necessitaria da participação de outra Força (…) pois não guenta [sic] a porrada que vai tomar sozinha”, afirmou.
O decreto golpista, elaborado pelo núcleo jurídico do governo Bolsonaro, tinha como objetivo instaurar um Estado de Defesa, impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e manter Bolsonaro no poder.
Apesar de admitir que estudou medidas como estado de sítio, Bolsonaro negou ter planejado um golpe. “Golpe de Estado é uma coisa séria. (…) Ninguém vai dar golpe com general da reserva e meia dúzia de oficiais”, declarou na última segunda-feira (25), antes da divulgação do relatório.

A PF também detalhou um plano de fuga para Bolsonaro, caso o golpe fracassasse ou fosse necessário aguardar seu desfecho. A operação incluía apoio de militares, uso de armas e veículos oficiais, além da construção de uma narrativa de perseguição para justificar a fuga. Essa estratégia seria alimentada por redes sociais, descrevendo Bolsonaro como vítima de um “clima de instabilidade”.
A logística do plano envolvia reuniões no Palácio do Planalto e na Granja do Torto, onde militares discutiam rotas de escape e meios de transporte. O uso de aeronaves da FAB e outros veículos oficiais estava previsto, assim como a preparação de armas guardadas em cofres. A PF encontrou indícios dessas tratativas em um laptop de Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro.
Entre os materiais recuperados, havia um slide que mencionava o dispositivo “RAFE/LAFE” (Rede/Linha de Auxílio à Fuga e Evasão), usado no jargão militar para operações desse tipo. O relatório indica que o plano seria financiado com recursos públicos e dependia da lealdade de militares dispostos a desobedecer ordens do comando.
Bolsonaro e seus aliados têm negado as acusações. O senador Flávio Bolsonaro (PL) afirmou que não há provas contra o pai e classificou o relatório da PF como parte de uma “trans-investigação”. “Direita ainda não tem esse nível de organização sugerido pela PF. Nem para o bem, nem para o mal”, publicou nas redes sociais.
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