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A falta de pluralismo cobra seu preço no ranking mundial de liberdade de expressão

O Brasil cai nove posições na lista mundial de liberdade de imprensa feita pela ONG Repórteres sem Fronteira.

Estamos agora na 108.o posição entre 179 países. Na frente estão os suspeitos de sempre – os países escandinavos. (Uma das causas do Diário é ajudar a empurrar o Brasil na direção da Escandinávia.)

Bem, o que significa a queda?

Primeiro, e antes de tudo, a lista não é ciência exata. Alguns fatos influenciaram o rebaixamento. O maior deles é que cinco jornalistas foram assassinados em 2012 no exercício de seu trabalho.

Depois, pesou também a falta de pluralismo. Nas grandes corporações de mídia, isso significa, internamente, uma censura branca, uma censura disfarçada.

Os jornalistas das quatro grandes empresas jornalísticas brasileiras não têm, a rigor, liberdade de expressão. Eles reproduzem, nos assuntos vitais como política e economia, a voz das empresas.

Não está escrito em nenhum manual, mas é amplamente entendido nas redações. Um jornalista da Folha, para ficar num caso, que for para a Venezuela jamais escreverá uma reportagem que não seja crítica a Chávez e ao chavismo. Chávez será caudilho, cacique etc etc.

Um repórter da Globo jamais escreverá uma reportagem que discuta a tese de que o Brasil tem uma carga tributária exorbitante, ainda que seja muito menor que a da Dinamarca, que deveria servir de referência.

A internet tem suprido a falta de pluralismo nas discussões econômicas e políticas nacionais. O fim do monopólio da voz das empresas sobre a opinião pública foi um dos grandes avanços do Brasil nos últimos anos.

É importante ler o trabalho da RST sem cair numa armadilha perniciosa: pensar que os jornalistas brasileiros podem criticar menos hoje o governo que antes.

Basta ler um texto de Reinaldo Azevedo para saber que não existe qualquer limite no ataque ao governo.

Mas se Azevedo – estamos apenas especulando —  escrever algo que seja favorável ao governo (digamos que Dilma descubra a cura do câncer) estará no limiar da demissão.

Isso se chama falta de liberdade de expressão, e ajuda a entender a medíocre posição brasileira.

Leia mais: Por que o embate entre Carlos Dornelles e Globo é de interesse público.

Leia mais: A mídia brasileira segundo Mino Carta

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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