Por que continuamos a amar tanto Gatsby

Atualizado em 21 de dezembro de 2012 às 11:29

Relembrando Jay Gatsby no aniversário de morte de seu criador, o escritor americano FS Fitzgerald

Robert Redford e Mia Farrow como Gatsby e Daisy

“Gatsby acreditava na luz verde, no futuro orgástico que, ano após ano, costuma recuar diante de nós. Ontem fomos iludidos, mas não importa – amanhã correremos mais rápido, esticando nossos braços mais além… E em uma bela manhã… E assim avançamos, botes contra a corrente, impelidos incessantemente de volta ao passado.”

Hoje, dia 21 de dezembro, é aniversário de morte de um dos maiores escritores de todos os tempos – e, particularmente, um de meus três favoritos. Pertencente à Geração Perdida, termo popularizado por Hemingway no livro “O Sol Também se Levanta”, Fitzgerald retratou como ninguém a elite americana da Era do Jazz, que ocorreu durante os anos 20.

O Grande Gatsby foi por anos meu romance favorito, e é a obra mais conhecida de Fitzgerald. Em suas principais adaptações para o cinema ou para a televisão, Jay Gatsby foi interpretado por atores como Robert Redford, Toby Stephens e — agora — Leonardo DiCaprio.

Gatsby é, de fato, um dos personagens mais fascinantes da literatura. Elegante e misterioso, Gatsby dá em sua mansão festas suntuosas. De acordo com o crítico inglês Tony Tanner, “Gatsby é um espectador sóbrio e isolado de suas próprias festas, mantendo uma curiosa distância de tudo o que possui e exibe – tanto que ostenta camisas que nunca usou, livros que nunca leu e convites para nadar na piscina em que raramente nadou.”

Os atores que interpretaram Gatsby nas principais adaptações do romance de F. Scott Fitzgerald (Na ordem, Alan Ladd, Robert Redford, Toby Stephens e Leonardo DiCaprio).

“Embora seja um exagero dizer que a ocupação real de Gatsby seja em si uma obscenidade”, escreveu Tanner, “é certo que sua ocupação, riqueza e identidade estão claramente fundadas em uma série de atividades mais ou menos sujas e criminosas.”

Gatsby afundou-se em um mundo criminoso e superficial, tudo para conquistar seu amor – a calculista, volúvel e frívola Daisy. Nick Carraway, o narrador, é primo de Daisy e vizinho de Gatsby. Com a ajuda de Nick, Gatsby reencontra seu amor perdido, depois de ter esperado cinco anos e comprado uma mansão onde partilhava a luz das estrelas com mariposas ocasionais.

Daisy e Gatsby se apaixonaram quando ela era uma jovem e bela socialite e ele era um soldado pobre ambicioso. Quando se separaram, Daisy volta a seguir a estação; “de repente, estava de novo marcando meia dúzia de encontros por dia com meia dúzia de homens e indo dormir ao amanhecer, com as contas e o chiffon de um vestido de noite enroscados entre orquídeas no chão ao lado da cama” – e, posteriormente, casando-se com um milionário detestável, Tom Buchanan. Gatsby, por sua vez, continuou a amá-la com uma constância tão admirável quanto patética.

Quando tudo dá errado para Gatsby, Nick é o único que fica ao seu lado. Em meu momento favorito de todo o livro, já no final, Nick grita através do gramado, “É uma gente ordinária! Você vale muito mais do que todos eles juntos.” A reação de Gatsby também é cativante: “Primeiro, ele assentiu com a cabeça de forma educada, e então abriu aquele sorriso radiante e sábio, como se houvéssemos concordado nesse ponto o tempo todo.”

Eu, assim como Nick, passei a nutrir um sentimento de desprezo solidário à Gatsby contra Daisy e Tom. O encantador Gatsby, com sua sublime prontidão romântica e tendência à idealização, cujas festas atraíam milhares de pessoas mas cujo velório é solitário… E então pensamos na estranha beleza das jornadas desesperadas pela paixão passada, como a dele. Perguntei ao meu pai, um dia, se ele achava que Gatsby iria ao encontro de Daisy, tantos anos depois, se soubesse o que o aguardava.

E ele me disse que achava que sim; afinal, estamos sempre remando contra a corrente, sempre, sempre, sempre.