Por que devemos ser gratos aos movimentos da série “Ocupe”

Atualizado em 26 de maio de 2013 às 16:16
Crianças trabalhando em minas de carvão nos primórdios da Revolução Industrial

 

A economia americana começou a se arruinar quando os CEOs  — os presidentes executivos das empresas – se deixaram levar pela ganância e pelo egoismo, em algum momento dos anos 80.

Foi assim.

Eles passaram a estipular seus próprios vencimentos. Vincularam o dinheiro que receberiam a bônus. Lucros a qualquer preço começaram a ser buscados  no curto prazo não para o bem das empresas ou da sociedade, mas para que os CEOs ganhassem somas indecentes, coisa na casa de dezenas de milhões de dólares por ano.

O planejamento, a visão de longo prazo, tudo isso foi varrido do mundo corporativo americano.

As consequências foram funéreas.

E não só para os Estados Unidos. O modelo americano se espalhou para outros países, dada a influência global.dos Estados Unidos.

Na Inglaterra, hoje existe um debate intenso em torno dos salários dos CEOs. Há um sentimento de que são tão ultrajantes quanto as táticas dos tablóides para conseguir furos. O atual CEO do Barclays, um dos grandes bancos britânicos, ganha dezenas de vezes mais que seus antecessores num passado não remoto. Esse tipo de coisa tem sido debatida com paixão entre os ingleses.

O colunista americano Paul Krugman vem tocando nisso. Numa boa tirada, Krugman disse que não está certo dizer que os movimentos de protesto que ganharam o mundo representam de alguma forma “99%” da sociedade. “Na verdade, são 99,9%”, escreveu ele esta semana.

Palmas.

A economia global enfrenta uma crise terrível. As perspectivas assustam. O Brasil até aqui se saiu bem, mas se a situação internacional se agravar não haverá como o país escapar dos problemas.

Se o descalabro corporativo nascido de salários obscenos não for combatido com firmeza e coragem, o futuro dos nossos filhos será penoso.

Devemos agradecer aos protestos da série “Ocupe Tudo” por terem chamado a atenção, ainda que de forma caótica, para uma situação de desigualdade chocante que torna o capitalismo dos nossos tempos  quase tão sombrio quanto nos tempos em que crianças trabalhavam 18 horas por dia, nos primórdios da Revolução Industrial.