Por que Doria não faz vídeos sobre as baixas de sua desastrosa gestão, como fez com Soninha? Por Mauro Donato

Atualizado em 26 de maio de 2017 às 16:23
João Doria na cracolândia

Para demitir Soninha Francine, Doria fez questão de divulgar um vídeo posando de chefão rígido, desses que constrangem o funcionário. Tudo em nome de sua imagem de gestor eficiente que cobra resultados.

Por que o prefeito João Doria não faz também vídeos sobre as baixas de sua desastrosa gestão, como fez com Soninha?

O vídeo mais recente e contundente a respeito do que realmente é sua gestão revela a secretária de Direitos Humanos, Patrícia Bezerra, soltando o verbo. Ela classificou de ‘desastrosa’ a ação capitaneada por Doria na região da cracolândia. Em seguida, a secretária entregou o cargo.

E o desmonte não parou por aí. Ontem, durante uma reunião da Comissão Permanente de Direitos Humanos da Câmara Municipal, na qual discutia-se a violência desmedida cometida por Doria, a coordenadora de Politica de Drogas da Secretaria de Direitos Humanos, Maria Angélica de Castro Comis, também pediu exoneração.

“O programa Braços Abertos garantia direitos. Na mudança da gestão, conversei com a Patrícia Bezerra e havia decidido ficar. Mas eles dizem uma coisa e depois não cumprem. Permaneci até hoje, mas não tenho como atuar, não tenho voz. Sou técnica e mesmo assim não fui chamada para várias reuniões. Fui boicotada. Não vou compactuar com isso e por isso me exonerei”, afirmou Maria Angélica.

A gestão Doria está ruindo a olhos nus. O descontentamento de sua equipe e seus métodos autoritários e ditatoriais estão vindo à tona em ritmo e volumes espantosos.

O secretário da Saúde, Wilson Pollara, um dos principais responsáveis pelo programa de tratamento de dependentes químicos, afirmou não ter sido avisado previamente da operação de domingo. Por aí já é possível acatar como verdadeira a declaração de Maria Angélica de Castro Comis. Se nem o secretário é comunicado, como Doria não estará tratando coordenadores?

A verdade é que o prefeito mentiu no atacado e no varejo. Ele havia garantido para todas as entidades assistenciais que trabalham na cracolândia e também para o Ministério Público (!) que não haveria um ‘Dia D’. Houve.

Com a síndrome de todo ditador, João Doria atropela tudo. Manda demolir edificações com pessoas dentro, inflou a lista de médicos que prestaria atendimento aos dependentes na tentativa de demonstrar estrutura suficiente (muitos médicos não tinham aquela especialidade, disseram nem saber que estavam na lista e solicitaram a retirada de seus nomes), deseja internar os usuários à força e por critérios que só deus sabe, retirou o veto à remoção de cobertores de moradores de rua.

Falastrão e despreparado com relação ao tamanho do problema, ele havia decretado o fim da cracolândia já no mesmo dia da ação. O resultado foi que hoje há 23 pontos de tráfico e uso de crack a céu aberto pelo centro da cidade.

Em repúdio ao estado policialesco e repressor instalado pelo prefeito, a Secretaria de Direitos Humanos está ocupada por representantes de movimentos sociais desde a criminosa ação na cracolândia.

O prefeito não admite críticas e não aceita ninguém que não seja bajulador a seu lado. Uma das primeiras vítimas de João Doria foi a coordenadora cultural Ana Paula Galvão. Com uma semana na cadeira de prefeito ele a demitiu. Ana Paula havia feito posts em redes sociais ecoando as acusações de que Doria havia cometido abuso econômico durante sua campanha.

Há poucas semanas o secretário de Educação, Alexandre Schneider, pediu demissão por não sentir respaldo do prefeito perante os ataques que estava sofrendo do movimento fascistóide MBL (Movimento Brasil Livre). Schneider tinha criticado o patrulhamento de Fernando Holiday em busca de ‘comunistas’ nas escolas públicas.

Doria conseguiu demovê-lo da ideia mas hoje certamente Alexandre Schneider conhece melhor quem é seu chefe.

João Doria é o ‘gestor’ que coloca seus funcionários para trabalharem 24 horas por dia, 7 dias por semana. É isso o que o empresariado apoiador das reformas golpistas (sobretudo a trabalhista) chama de moderno.