Por que Fátima Bernardes se tornou o maior alvo na TV do ódio dos bolsonaristas. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 16 de fevereiro de 2019 às 11:11
A apresentadora Fátima Bernardes no comando do Encontro

Após 7 anos no ar, o programa “Encontro com Fátima Bernardes” se converteu em alvo preferencial dos bolsominions.

A notícia de que ele chegará ao fim nos próximos meses — desmentida pela Globo — foi comemorada por eles.

Em todos esses anos de exibição, o Encontro já foi palco de muitas polêmicas: xingamentos na plateia, lacração de convidado e constrangimento geral e, verdade seja dita: o ódio que o programa causa à extrema direita é maior até do que a audiência mediana que dá à Globo.

Depois de escolher se divorciar do marido e do Jornal Nacional – esses dois símbolos marcantes da família tradicional brasileira –, Fátima virou obsessão dos bolsonaristas pela vida profissional e a pessoal.

Por que ela e seu programa incomodam tanto?

A Rede Globo é um dos grandes nomes da lista atualizada de comunistas que os bolsominions inventaram.

Qualquer entretenimento que envolva pautas sociais e identitárias é comunista e, na emissora, “Amor e Sexo” e “Encontro com Fátima Bernardes” são o mais longe que se consegue chegar nessas discussões.

Ambos os programas, e também, é claro, suas respectivas apresentadoras, são frequentemente atacados na bolha bolsonarista na internet porque estão voltados para uma juventude dita progressista, e suas atrações frequentemente celebram a diversidade (juventude e diversidade são duas das coisas que irritam profundamente os bolsonaristas).

No caso de Fátima Bernardes, especificamente, o incômodo parece maior porque abarca outra coisa que irrita profundamente os ultraconservadores: mulheres que tomam suas próprias decisões, e frequentemente são o contrário do que se espera delas.

Quem seria a Fátima Bernardes que a família tradicional espera?

A sempre esposa de William Bonner, encenando para os holofotes um casamento perfeito (com aquele homem? eu acreditaria improvável), que mantém-se no rigor das pautas jornalísticas em detrimento do que sempre fora seu sonho, um programa de auditório, e dá a todas as esposas infelizes nos lares brasileiros o consolo de que ser uma esposa infeliz é o certo e exemplar a se fazer.

E quem é a Fátima Bernardes real?

A que virou as costas para um casamento falido e um emprego que já não lhe apetecia e inventou para si uma nova vida, que prioriza seus sonhos e sua felicidade: o sonhado programa de auditório, um namorado mais jovem e cheio de consciência de classe e uma vida de escolhas corajosas – e ai da mulher que se atreve a fazer escolhas.

Espera-se sempre que as mulheres reneguem a si mesmas em nome dos papéis sociais que lhes impuseram, e qualquer uma que negue isso é achincalhada e será ainda por muitos séculos. Fátima é detestada pelo seu programa, mas sobretudo por suas escolhas.

O que pode incomodar mais do que uma mulher que faz somente o que quer?

O que os conservadores enfim relutam em admitir é que Fátima Bernardes rejuvenesceu e que eles próprios deveriam fazer o mesmo.