Por que Fernando Holiday não faz blitz para enquadrar professores racistas?

Atualizado em 6 de abril de 2017 às 13:14

Acusado de usar caixa 2 na campanha, Fernando Holiday se diz perseguido por ser negro e gay

O vereador Fernando Holiday é negro. E isso não é uma ‘acusação’, mas uma constatação. Por que em vez de procurar pêlo em ovo (como na infeliz iniciativa de visitas à escolas em busca de ‘doutrinadores comunistas’) ele não faz blitz em escolas onde ocorrem casos de racismo?

Não é difícil encontrá-las, mas Holiday tem uma ferramenta à disposição, caso queira. Com a hashtag #MeuProfessorRacista inúmeros casos passaram a ser relatados. Experiências nada boas de estudantes que sofreram discriminação racial por parte de seus professores.

Tudo começou com uma discussão em uma sala de aula da faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP acerca da existência de racismo na obra de Monteiro Lobato. Uma professora reagiu mal e então a página Ocupação Preta lançou a hashtag. Primeiramente ali no Facebook e depois no Twitter. Foi uma avalanche. Milhares de denúncias de professores que cometem atos de racismo nas salas de aula são publicadas incessantemente. O assunto está entre os dez primeiros Trending Topics do Twitter.

Casos revoltantes como o de Tati Ribeiro Nefertari. Ao tirar uma boa nota em uma prova, seu professor desconfiou e ordenou que ela refizesse o exame sozinha. “Refiz a prova, tirei uma nota ainda maior e não tive um pedido de desculpas”, afirmou Tati que alega que a atitude do professor tenha ocorrido em razão de sua cor.

Será que Fernando Feriado já passou por uma dessas? Ele minimiza o racismo, é defensor incondicional da meritocracia, é contra cotas e quer revogar o Dia da Consciência Negra. Mas é negro e de origem pobre. Obviamente que já passou por experiências desagradáveis. Por que então ele não realiza blitz nessas escolas denunciadas? Basta entrar em contato com as pessoas que estão relatando seus casos e informar-se sobre quais as instituições de ensino em que os eventos se deram. A julgar pelo número de denúncias, o que não falta são professores racistas.

Holiday tem um discurso mascarado. Afirma ser contra cotas raciais pois elas prejudicariam a luta contra o racismo – e deseja o fim do Dia da Consciência Negra pelo mesmo motivo, pasmem – sendo que cotas são políticas públicas que ojetivam romper com um privilégio histórico. O vereador apela para a meritocracia quando não há a menor possibilidade de mérito num cenário de desigualdade como o que vivemos. E professores racistas apenas perpetuam essa desigualdade.

Com seu ego a cada dia mais inflado, Fernando Holiday é o típico (e deprimente) caso de negro que renega a existência do racismo.Posso dar uma ajuda, ainda que ele certamente não queira. Vá ao Mackenzie, vereador. Lá os casos de racismo são recorrentes. É comum encontrar recados como o que foi deixado atrás da porta do banheiro masculino do Prédio 3: ‘Lugar de negro não é no Mackenzie, é no presídio’.

“O rapaz reproduz um discurso racista porque, no fim das contas, ele é uma vítima do racismo. Sua própria visibilidade é o resultado de uma sociedade racista e que só dá espaço para jovens negros que estejam dispostos a ratificar o pensamento dominante e se comportar de acordo com certas expectativas”, já disse Silvio de Almeida, professor, advogado e presidente do Instituto Luiz Gama.

O que Fernando Holiday esteve fazendo no ínicio desta semana é impróprio para seu cargo de vereador. Mas racismo é crime e Holiday deveria ficar incomodado com isso. Não fica. Prefere ficar invadindo escolas procurando onde está Carl Marx.