Por que FHC quer detonar a candidatura de Alckmin. Por Miguel Enriquez

Atualizado em 4 de janeiro de 2018 às 8:11

Por Miguel Enriquez

Fernando Henrique Cardoso. Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil

FHC decidiu se movimentar novamente em direção à corrida eleitoral pelo mesmo motivo de sempre: sabe que as chances do seu PSDB chegar à presidência não são lá uma Brastemp, mas pior para o decano e seus sócios seria ter de abrir mão da joia da Coroa – o palácio dos Bandeirantes.

E por que FHC estaria tão preocupado com o governo de São Paulo?

É que dois medalhões do seu grupo, Serra e Aloysio, estão atolados até a medula em denúncias que podem vir à tona a qualquer momento. Notou que Serra está em silencio sepulcral e Aloysio, literalmente, sumido do mapa?

No tabuleiro do partido, sobram então duas peças – e é com elas que FHC tem de jogar: Alckmin, que vai resvalar na sujeira das apurações, mas com razoáveis chances de passar batido, já que seus malfeitos são coisa de coroinha perto daqueles praticados por Serra e Aloysio, e João Doria, a mala sem alça que invadiu o ninho tucano, bagunçou o coreto e acabou se tornando uma espécie de mal necessário da velhacaria.

Não por acaso, FHC ventilou o nome de Alckmin à presidência do PSDB durante a crise que marcou a destituição de Tasso Jereissati da presidência nacional do partido.

O velho cacique “empurrou” o colega escada acima, a contragosto de Alckmin, ofertando-lhe o comando partidário na esperança de construir uma ponte com o vice-governador Márcio França – a ideia era forçar França a abrir mão do seu desejo de concorrer à reeleição em nome de Serra.

Pela lógica de FHC, assegurado o direito de concorrer à presidência, Alckmin não teria outra alternativa senão convencer o vice a abrir mão da candidatura em nome da unidade do grupo.

Tudo corria nos conformes até o início de dezembro, quando, dos bastidores do Judiciário, veio a bomba: Serra e Aloysio estão enrolados até o pescoço. Não vai sobrar pedra sobre pedra.

Com Serra assustado e Aloysio fugindo até da sombra, não restou a FHC alternativa senão engendrar outra manobra, no seu melhor estilo “vão os anéis, ficam os dedos”.

É daí que Doria ressurge das cinzas. Primeiro como opção ao governo do Estado; em último caso, até como candidato a presidência.

Eis novamente o PSDB jogando pedras no caminho de Alckmin.

Tudo o que o governador de São Paulo não precisa neste momento é João Doria perturbando, quanto mais tentando enfrentar Márcio França nas urnas.

Se Serra estivesse limpo, até haveria a possibilidade de um acordo com França no sentido dele abrir mão da candidatura.

Mas com João Doria essa chance se reduz a zero.

França não tem medo, tampouco respeito pelo gestor.

Aposta na incrível capacidade de Doria para armar confusão e joga com essa hipótese para, usando um linguajar próprio do meio, afligir os aflitos – no caso os aliados de Alckmin.

Há quem diga que Alckmin é um predestinado e que o destino sempre conspirou a seu favor.

Não deixa de ser uma verdade, considerando também que, do ponto de vista ético, está longe de ser um administrador ligado à grandes bandalheiras – tanto que, diferente de Serra e Aloysio, que estão fugindo até da sombra, ele se mantém em pé e de cabeça erguida.

Seu infortúnio, a essa altura da vida, é justamente ter de caminhar lado a lado com um inimigo astuto como FHC, que faz de todos gato e sapato para assegurar seus próprios interesses.