Por que fracassou o plano do governo Bolsonaro para financiar folha de pagamento e manter empregos. Por PH Arantes

Atualizado em 24 de maio de 2020 às 13:41
Bolsonaro anunciou o programa, ao lado do presidente do Banco Central. Foto: Reprodução

Criado pelo Banco Central, o Programa Emergencial de Suporte de Empregos (Pese) fracassou. As empresas pouco se interessaram em manter empregos nas condições propostas: em um mês e meio, buscaram-se apenas 1,6 bilhão dos 40 bilhões de reais programados em recursos dos bancos e do Tesouro Nacional. O Congresso discute alterações na Medida Provisória 944, que instituiu a linha de crédito para manutenção das folhas de pagamento, e uma das alternativas aventadas é aumentar de 85% para 100% a garantia do Tesouro aos bancos. O Pese destina-se a empresas com faturamento entre 360 mil e 10 milhões de reais e a taxa é de 3,75% ao ano, igual à Selic.

Por que empresas de pequeno e médio porte recusam-se a captar dinheiro barato para manter seus funcionários? A cultura da demissão como resposta imediata a dificuldades circunstanciais pode ser a resposta. Mas não só ela.

Segundo o economista Paulo Kliass, especialista em políticas públicas e gestão governamental, uma das possíveis razões do fiasco da medida é que as empresas tenham se sentido engessadas pelo fato de o crédito ser condicionado à não demissão. Outra vem do próprio setor financeiro.

“Um segundo aspecto – sobre o qual ainda não temos bases efetivas para concluir – seria a falta de interesse dos bancos privados. Normalmente, os bancos privados não ficam muito interessados em operar linhas de crédito oficiais ou esses programas de políticas públicas por terem uma margem de ganho muito pequena em relação à rentabilidade enorme que costumam ter na especulação financeira. Então, eles não se mexem muito”, avalia Kliass.

O fracasso do Pese insere-se no amplo rol de desventuras da equipe econômica liderada por Paulo Guedes, que se recusa a enxergar, ao contrário do mundo inteiro, que sem dinheiro público não se salvam nem vidas nem a economia.

“Neste momento de pandemia, são necessárias políticas públicas focadas no porte das empresas. Empresas de grande porte, grandes conglomerados, têm capital de giro suficiente para atravessar essa crise e não precisariam, em tese, demitir. Mas não é o caso de pequenas e médias empresas, que dependem muito de capital de giro para superar momentos de dificuldade quando sua receita cai drasticamente, como é o caso atual”, explica Kliass.

E prossegue: “No caso das pequenas e microempresas, que são efetivamente as que mais empregam no país, o governo deveria ter uma ação mais direta, inclusive no sentido de oferecer recursos sem custo, porque o retorno social e econômico que se tem disso é muito grande: por um lado, você continua mantendo as pessoas, as famílias, em condições mínimas de sobrevivência do ponto de vista humanitário; e, do ponto de vista econômico, isso significaria a manutenção de um volume de renda, em termos de demanda agregada, bastante grande”.

Exceto por Paulo Guedes, ao que parece, economistas dos mais diversos matizes estão convencidos de que aumentar o gasto público é a única forma de superar o caos pandêmico, “seja do ponto de vista social, seja do ponto de vista econômico”, diz Paulo Kliass.

Dados do Banco Central mostram que o Pese financiou o salário de 1,1 milhão de trabalhadores. A estimativa inicial era de alcançar 1,4 milhão de empresas e 12,2 milhões de pessoas. Fiasco é a palavra exata.

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PS: Bolsonaro anunciou o projeto que se revelaria um fracasso, ao lado do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no dia 27 de março.

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No vídeo abaixo, o jornalista Joaquim de Carvalho analisa as declarações de Paulo Guedes durante a reunião ministerial do dia 22 de abril, aquela. Entre outras barbaridades, o ministro da Economia disse que ele e Bolsonaro (talvez no sentido de governo) ganhariam dinheiro socorrendo grandes empresa, mas perderiam com o socorro aos pequenos empresários.