Por que Gaddafi é diferente de Mubarak

Atualizado em 1 de junho de 2013 às 17:46
Ele não vai cair tão fácil

Sinto desanimar você, mas nada indica, pelo menos até aqui, que Gaddafi vá ter a sorte de seus colegas recentemente despejados na Tunísia e no Egito. Isso a despeito das defecções no exército líbio.

A revolta é a mesma, mas a situação militar do regime é inteiramente outra.

Gaddafi, coronel, subiu ao poder por meio de um golpe militar, em 1969. Para evitar que outros fizessem com ele o que ele próprio fez, Gaddafi minou a força do exército líbio. Fortaleceu, em contrapartida, as chamadas “Milícias do Povo”,  grupos paramilitares com estreito vínculo com o regime. Eles superam em número o exército oficial.

São células armadas, uniformizadas  e intensamente treinadas. Delas fazem parte não apenas líbios mas mercenários, especialmente oriundos da África. Gaddafi só vai estar efetivamente em apuros se as milícias o abandonarem. Por enquanto, não há sinal disso.

Gaddafi fez da Líbia um país em armas. As bases das milícias estão localizadas nas escolas, centros comunitários e nas empresas líbias. Praticamente todo líbio fisicamente apto recebe treinamento militar desvinculado do exército.

“Membros do governo e das empresas estatais, bem como artesãos, profissionais e agricultores, treinam militarmente dois dias por mês e um mês por ano”, diz um estudo confiável. “Em algumas fábricas, a atividade militar é mais intensa. Quando o dia de trabalho termina às 14 horas, os funcionários são obrigados a treinar quatro  horas cinco dias cada semana. Esses períodos de formação intensiva duram seis meses ou mais em intervalos de poucos anos.” Praticamente não existe líbio que não saiba manejar uma granada ou uma metralhadora.

Gaddafi vem tentando engajar também as mulheres nas milícias, mas até aqui sem sucesso. Sempre esbarrou nos costumes islâmicos, segundo os quais o lugar da mulher é a casa ou a mesquita.

Gaddafi sempre justificou a existência das milícias com base nos inimigos externos. Num conflito com o Egito, há alguns anos, ele atribuiu a elas o sucesso.

Agora, sem inimigo externo, as milícias estão outra vez em ação – matando e sufocando os próprios líbios que supostamente deveriam defender.