Por que Israel censura Susan Sarandon e mata jornalistas. Por Luis F. Miguel

Atualizado em 23 de novembro de 2023 às 18:00
Atriz Susan Sarandon durante protesto pró-Palestina em Nova York, nos Estados Unidos. Foto: Erik Pendzich/Shutterstock

Susan Sarandon e Melissa Barrera: duas atrizes de diferentes nacionalidades e gerações. Ambas demitidas após expressarem solidariedade ao povo palestino.

Ao buscar silenciar qualquer crítica ao Estado de Israel, punindo com o ostracismo quem não se conforma, a indústria cultural estadunidense reproduz as práticas do macarthismo dos anos 1950.

Atores, roteiristas e diretores que ousarem se manifestar contra o sionismo estarão numa lista negra* dos estúdios, como antes aqueles que eram suspeitos de simpatia pelo comunismo?

(*A expressão “lista negra” está vetada em cartilhas da polícia linguística identitária. Faço questão de usá-la porque não vejo sentido no empobrecimento do idioma em nome da invenção de um racismo ad hoc. Aliás, quando o rei Henrique VIII anotava o nome de seus desafetos num caderno de capa preta, o que deu origem à expressão, a população afrodescendente nas Inglaterra era irrisória. Sim, crianças, Bridgerton não é historicamente acurado!)

Sarandon, uma das atrizes mais talentosas de Hollywood, foi dispensada pela principal agência do mercado cinematográfico. Ela participou de manifestações contra o genocídio em Gaza e postou: “Mantenha a Palestina em seus corações, reze pelos palestinos… E obrigada à comunidade judaica que está nos apoiando”.

No tuíte mais polêmico, disse que hoje há pessoas com medo de ser judias, mas que o medo é uma experiência comum a muçulmanos nos Estados Unidos. Eu leio como uma condenação tanto do antissemitismo quanto da islamofobia – é bem óbvio. Mas Sarandon foi dispensada como “antissemita”.

Atriz Melissa Barrera. Foto: Joe Pugliese

Melissa Barrera estrelava a série de filmes Pânico. Por protestar contra a matança em Gaza, usando nomes corretos (“campo de concentração”, “genocídio”, “limpeza étnica”), foi acusada de “discurso de ódio” e demitida pela produtora Spyglass.

Ganha uma “ghostface” (a máscara do Pânico) que detectar o ódio no discurso de Barrera.

A investida contra as atrizes é parte de um esforço para silenciar todas as vozes que se dispõem a mostrar a realidade da Palestina hoje. O coro de “antissemitismo” que se ergue cada vez que alguém denuncia as atrocidades que Israel perpetra, há décadas, contra aqueles cujas terras roubou.

Não é à toa que Israel gosta tanto de matar jornalistas. O mundo não pode saber o que realmente está acontecendo.

Justamente por isso, é tão importante continuar denunciando.

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Luís Felipe Miguel
Professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Demodê - Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades.