Por que Lisca Doido é hoje o homem mais importante do futebol brasileiro

Atualizado em 4 de março de 2021 às 16:21

Enquanto os dirigentes dos clubes e as federações de futebol ignoram o momento mais crítico da pandemia no Brasil, o único que mostra alguma indignação é o treinador do América-MG, Lisca Doido.

Numa entrevista coletiva após o jogo de quarta-feira (3) pelo Campeonato Mineiro, ele fez um forte desabafo pedindo a paralisação do futebol.

“O nosso país parou, gente! Não tem lugar nos hospitais, eu estou perdendo amigos, perdendo amigos treinadores. Não é hora mais, é hora de segurar a vida, velho”.

No mesmo dia, a CBF havia divulgado o calendário da Copa do Brasil, que já começa na semana que vem e será disputada por 80 equipes de todo o país.

“É inacreditável sair uma tabela da Copa do Brasil hoje [quarta], com jogos dia 10, 17 [de março], 80 clubes que nós vamos levar jogadores com delegação de 30 pessoas para um lado e para o outro do país. Vai pegar uma delegação do Sul e levar para Manaus, como que vocês vão fazer isso, gente?”, questionou Lisca.

Ele parece ser a única pessoa sensata nesse meio. Desde o início da pandemia, nenhum técnico, presidente ou jogador se manifestou contra a realização dos campeonatos.

O bolsonarista Renato Gaúcho, inclusive, se opôs à paralisação e afirmou que o futebol ajuda a manter as pessoas em casa. “A gente está fazendo, entre aspas, um favor ao povo. No momento que a gente joga, a gente ajuda o torcedor a ficar em casa. Não pode parar tudo no país”.

Mas o que tem acontecido desde a volta do futebol, em junho de 2020, mostra o contrário do que diz o técnico do Grêmio.

Com o aval das autoridades e das diretorias dos clubes, torcedores se aglomeram do lado de fora dos estádios e os bares lotam toda vez que tem jogo.

A CBF vai esperar morrer um jogador para interromper o futebol? Parece que sim.

Nem mesmo os surtos de Covid-19 que afetaram diversas equipes levaram a confederação a pelo menos adiar a disputa dos torneios.

Se ficou tudo fechado e sem esporte por três meses no ano passado, quando a situação ainda não era tão crítica, por que agora não se para tudo?

Por que apenas Lisca, o maluco, tem coragem de fazer essa reflexão?

Só ele cobra um posicionamento do presidente da CBF, Rogério Caboclo, e do técnico Tite, da Seleção Brasileira.

“Pelo amor de Deus, gente! O que está acontecendo com o nosso país? Nós precisamos nos posicionar, precisamos lutar contra isso. Precisamos nos vacinar. Por favor, presidente Caboclo. Tite, nós precisamos do seu posicionamento. Você é o treinador principal do país. Não deixe acontecer isso conosco, Tite. Pelo amor de Deus!”.