Por que o mercado não gosta do Lula? Por Emir Sader

Atualizado em 11 de janeiro de 2022 às 22:03
Lula na Bolsa de Valores
Lula sofre resistência do mercado

O apoio que o Bolsonaro mantinha se baseava, sobretudo, nos evangélicos e nos empresários. Nos evangélicos essa vantagem está neutralizada, talvez porque os evangélicos também comem, ou o Lula até mesmo tem alguma vantagem.

O apoio fundamental ao Bolsonaro se reduz ao apoio dos empresários. Esse apoio subiu de 37% de apoio em 27!4/2020 para 49% em 8/7/21. No período em que a deterioração do apoio ao Bolsonaro diminuiu de 33% para 24%.

Isto é, enquanto na sociedade o apoio ao Bolsonaro caia, no empresariado aumentava. O que demonstra não apenas o descompasso, mas sobretudo a distancia entre os interesses e a visão do empresariado em relação à sociedade brasileira.

Ao mesmo tempo, o chamado “mercado” se manifesta contra o Lula. Prefere o Bolsonaro ao Lula. Se manifesta contra as medidas que o Lula já anuncia que vai tomar.

Mas quem é esse “mercado”?  Quem é o empresariado brasileiro, que não gosta do Lula e que é quem está expresso no “mercado”.

A economia brasileira mudou muito, desde a adesão das elites dominantes ao neoliberalismo, coaram o Collor e com o FHC. O eixo da economia se deslocou das grandes corporações industriais, comerciais e financeiras para o setor financeiro privado. Um setor que não está diretamente associado à produção e à geração de empregos, mas à especulação financeira, onde ganha muito mais do que no investimento produtivo.

Por isso os bancos privados passaram a estar no centro da economia. Quando se fala do mercado e do empresariado, a referência é centralmente a eles.

Por que eles não gostam do Lula? O próprio Lula diz que eles ganharam muito no seu governo, porque a economia cresceu como nunca.

Porém a economia cresceu centralmente baseada no crescimento dos investimentos produtivos, na ampliação do mercado interno de consumo popular, na geração de empregos formais e na diminuição das desigualdades (sociais e regionais).

Não é esse modelo o que interessa ao capital financeiro. Os bancos privados tiveram que conviver com o Lula, embora a contragosto. E, quando puderam, sabotaram abertamente esse modelo.

Mas, principalmente, no governo Lula, a novidade não era o lucro dos capitais privados, mas a melhoria substancial da situação das classes populares. Com a geração de mais de 20 milhões de empregos formais, com o aumento do salário mínimo 70% acima da inflação, com a extensão social e regional enorme do sistema educacional e o fortalecimento do sistema publico de saúde, entre outras expansões dos direitos da massa da população.

Nos governos dos últimos 5 anos, depois da ruptura da democracia, o capital financeiro goza das melhores condições para ele. Não há mais um modelo econômico que promove o investimento produtivo, nem gera empregos formais e distribuição de rena.

Os interesses que predominam são os do capital especulativo. E, além de tudo, os interesses das classes populares estão sendo duramente golpeados. Os empregos formais caíram drasticamente, a favor do crescimento exponencial do trabalho precário, em que a superexploração do trabalho aumenta drasticamente. Em que o aumento dos lucros especulativos não tem limites, em que o governo se submete totalmente aos interesses dos bancos privados.

Esse “mercado”, esse empresariado, é o que ainda apoia o Bolsonaro e não gosta do Lula. O Lula anunciou suas primeiras medidas: superação da ditadura do teto de gastos, revogação da reforma trabalhista como ela foi aprovada, fim do processo de privatização de empresa publicas, recuperação de empresas privatizadas, entre outros. Elas orientarão o governo Lula. (E são incomparavelmente mais importantes do que quem será seu vice).

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O Lula governará contra o “mercado”? Governara’ centrado nas necessidades fundamentais da grande maioria dos brasileiros: geração de empregos formais, resgate das políticas sociais de distribuição de renda, resgate da democracia. Importa não o apoio do “mercado”, mas o apoio da grande maioria da população brasileira.

O “mercado” não é o Brasil. E’ muito estreito para caber o Brasil. Tanto assim que a maioria dos empresários não apoia o Lula, mas a grande maioria da população – que, esta sim, representa o Brasil – apoia.

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