Por que Mitt Romney é o retrato perfeito dos Estados Unidos das últimas décadas

Atualizado em 30 de agosto de 2012 às 14:10
O casal Mitt e Ann Romney

 

Você vai ouvir falar muito de Mitt Romney nos próximos meses. Talvez nos próximos anos, caso ele vença as eleições presidenciais americanas. As pesquisas mostram que Obama e Romney estão virtualmente empatados. A última da emissora CBS deu 46% a 45% para Obama, com a habitual margem de erro de três pontos.

Vou poupar seu tempo de leitura sobre Romney.

Ele é, na essência, o retrato dos Estados Unidos nas últimas três décadas. Aos 65 anos, casado com sua namorada de juventude, Ann, Romney tem cinco filhos e dezoito netos. Nasceu numa família rica, e com isso pôde estudar em duas escolas da elite americana, Stanford e Harvard. Como todo Romney, não serviu seu país em nenhuma guerra.

Era milionário no berço, e acabou aumentando ainda mais sua fortuna – avaliada em 250 milhões de dólares — quando montou um negócio que promovia o que se chama turnaround , virada em português, em empresas financeiramente asfixiadas.

Funciona assim um clássico turnaround: você compra barato a empresa. Logo em seguida, demite em quantidades copiosas, corta custos freneticamente e pronto: revende a empresa e ganha um dinheiro enorme. Quase sempre, os cortes comprometem o futuro – mas você já estará longe da companhia, contando seus dólares.

Gordon Gekko fazia isso em Wall Street. Mitt Romney fez isso na vida real. A diferença é que Gekko dizia que ia “libertar” as empresa. Romney afirmava que ia “ajudar”. Os turnarounds contribuíram para criar na economia americana uma cultura de curto prazo corporativo que o tempo mostraria ser ruinosa. Parte do declínio americano deriva dessa cultura.

Romney se especializou também em fugir, dentro da chamada legalidade amoral, dos impostos. Ele só apresentou uma declaração de impostos, e nela se via que pagou pouco mais de 13%. Também nisso ele simboliza os Estados Unidos de hoje, o paraíso do 1% e inferno dos 99%.

A célebre casa de La Jolla

É particularmente revelador o que ele fez, no quesito impostos, com a famosa casa que comprou no belíssimo balneário La Jolla (Larróia, pronuncia-se), na Califórnia, há quatro anos. Ele pagou 12 milhões de dólares à vista. Como revelou o jornal Los Angeles Times, Romney deixou de pagar mais de 100 mil dólares em taxas. Ele alegou à administração de La Jolla (A Jóia, em espanhol) que a casa perdera valor desde que a comprara. Valia, segundo ele, 6, 8 milhões, 45% do preço que ele pagara. Detalhe: sete meses antes.

Ou Rombey é bobo, ou faz os outros de bobos.

A casa tem sido objeto de intensa cobertura da imprensa americana. Está sendo feita uma reforma, e um detalhe particular chamou a atenção dos jornalistas: um elevador para os carros.

Em sua campanha, Romney atribui a Obama a culpa do horror econômico americano, como se os oitos anos de seu colega de partido George W. Bush não tivessem responsabilidade pelo caos. Obama prometeu mudar e não mudou, mas ainda assim ele parece uma alternativa menos ruim que Romney.

Escreveu o historiador americano Howard Zinn em seu aclamado “A História dos Estados Unidos sob a ótica do Povo”: “Temos um país que é dominado pelas grandes corporações, pelo poder militar e por dois partidos políticos antiquados”.

Clap, clap, clap. De pé.