Por que não existe o Deltan da merenda? Por Mauro Donato

Atualizado em 15 de setembro de 2016 às 10:12
1º/09/2016- O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capes (PSDB-SP). Foto: ALESP
1º/09/2016- O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capes (PSDB-SP). Foto: ALESP

Quando o investigado é do PSDB daí não tem powerpoint nem palestra com explanação de um dia inteiro, dissecando o caso como se fosse um episódio do seriado CSI.

Nesta quarta-feira, em mais uma sessão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Merenda na Assembleia Legislativa de São Paulo, o presidente da casa, Fernando Capez (PSDB), um dos principais investigados na Operação Alba Branca do Ministério Público e da Polícia Civil sobre a Máfia da Merenda voltou a negar qualquer participação, qualquer recebimento de propina.

“Não recebi um centavo dessa cooperativa nem de nenhuma cooperativa, nem diretamente nem por interpostas pessoas”, afirmou. Não sem antes tentar impedir a entrada de estudantes que desejavam acompanhar a sessão e cobrar agilidade, como vêm fazendo há muitos meses.

Os secundaristas acamparam na calçada na noite anterior para garantir o acesso ao plenário, mas de manhã cedo a sala Dom Pedro I onde ocorreria a sessão já estava cheia. Como pode? Correligionários de Capez tiveram a entrada facilitada para ocupar as vagas na galeria e desse modo impedir a presença dos jovens. Queriam uma ação entre amigos e com as portas fechadas, uma manobra canalha, para dizer o mínimo.

Revoltados, os estudantes tentaram forçar a entrada e daí repetiu-se os bons modos das autoridades e polícia na ALESP. Com jatos de spray de pimenta no rosto das pessoas e muita truculência, a PM ainda prendeu um menor de idade. O cinegrafista Amos Alexandre da Globonews recebeu um soco de um policial e foi ao chão. O deputado Alencar Braga (PT) tentou evitar as agressões e excessos da polícia. Foi também agredido e quase jogado escada abaixo.

Entretanto, houve um fato novo ontem.

Talvez por não estar suportando a pressão, ao mesmo tempo em que se inocentava, Fernando Capez fez um pronunciamento questionando a responsabilidade do governador Geraldo Alckmin nesse papagaio todo.

“Cadê o superfaturamento que existe dos grandes fornecedores da merenda? A merenda seca. Por que não se apura toda a merenda?”, perguntou Capez lançando dúvidas sobre quem de fato seria o ‘comandante máximo’ do esquema.

A respeito da lentidão nas investigações e apurações para supostamente beneficiá-lo, Capez expôs ainda mais a fissura: “O fato de não estar apurando não quer dizer amizade. Pode ser exatamente o contrário”, disse. Para ele, a demora na investigação tem o objetivo de desgastar sua imagem. Não tem um Deltan Dallagnol de plantão para elaborar uns slides que nos ajudem a entender?

Apesar de um sinal de que as coisas não vão bem no ninho tucano, a CPI da merenda escolar não anda, ninguém é punido, ninguém é preso. Ou melhor, é sim. Aquele que é o mais prejudicado nessa história toda, o estudante, aquele que cobra por justiça, que exige solução, que sofre com o descaso no ensino público, esse sim é preso, agredido, levado para a delegacia e Fundação Casa. É coagido a não cobrar a responsabilidade, a não buscar seus direitos, a não frequentar a ‘casa do povo’.

Há um proclama muito difundido entre os estudantes desde as ocupações do ano passado: “Por uma educação que nos ajude a pensar e não que nos ensine a obedecer.” O PSDB e a polícia não aceitam nem entendem isso. Para eles, cassetete é tutorial.