Essa discussão sobre Dilma Rousseff usar a designação “presidenta” em vez de “presidente” beira à babaquice e à ignorância, nem sempre nessa ordem, embora o sujeito dessa oração seja, todo mundo sabe, o preconceito.
Toda vez que essa bobagem vem à tona, me lembro de como o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro decidiu mudar a grafia do próprio apelido, “Cacai”, para o glamoroso e internacional “Kakay”.
Um dos mais famosos criminalistas do País, Castro é também uma fonte privilegiada do jornalismo da capital. Conhece, por ofício, a intimidade do poder de ponta a ponta do espectro esquerda-direita, e sabe equilibrá-la entre o sigilo profissional e a inconfidência calculada.
Pois bem, no dia que “Cacai” decidiu ser “Kakay”, aliás, um direito dele, precisou apenas avisar às redações.
No outro dia, todos os jornais e revistas adotaram alegremente a grafia bolada pelo advogado, talvez em um desses tarôs de numerologia. E ninguém questionou que não podia ser “Kakay” porque não existe “kays” do porto, nem “kayçara”, nem o “karay” a quatro.
É “presidenta” porque a presidente eleita quis assim, nos documentos oficiais e no tratamento pessoal, como forma de estabelecer um marco simbólico na ocupação do poder. Isso, apesar de haver mulheres a replicar a geleia de misoginia dispensada ao tema.
Ninguém é obrigado a seguir a designação, fora da esfera dos órgãos oficiais. Usa quem quiser.
Além disso, não tem erro de português.
Tem é recalque mesmo.
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