Por que nos alegramos com a Mega-Sena dos petistas. Por Moisés Mendes

Atualizado em 20 de setembro de 2019 às 10:01

PUBLICADO NO BLOG DE MOISÉS MENDES

POR MOISÉS MENDES

Por que há um sentimento de alegria compartilhada com o pessoal do PT que ganhou a mega-sena? Por que todos os dias vamos dormir e todos os dias acordamos sem notícias que nos surpreendam com alguma coisa boa.

Todos os dias ficamos sabendo que Sergio Moro está fraco, que o Intercept vazou mais mensagens escabrosas de Dallagnol, que Bolsonaro agrediu mais uma mulher de algum lugar do mundo, que o ministro da Educação cortou bolsas, que Queiroz continuará solto.

Mas mesmo as notícias que podem nos dar algum alento, como as que envolvem a desmoralização pública de Sergio Moro, não nos acalmam, porque são promessas incompletas. Moro fica fraco, mas resiste, e Dallagnol continua, com a maior cara de pau, pedindo combate à corrupção.

E vamos seguindo na nossa vidinha, sabendo que poucos reagem, que talvez Celso de Mello enquadre Moro, que talvez Dallagnol uma hora caia, que o TRF4 poderá ser desmascarado pelo Supremo mais adiante.

A notícia da mega-sena tem os componentes da sorte, do inesperado e do imponderável coletivo. É o compartilhamento de um prêmio entre 49 pessoas.

A mega petista aciona esses sentimentos de milagre, partilha e solidariedade e resgata um pouco do que a própria esquerda extraviou pelo caminho, a possibilidade de sonhar, de abstrair e de sermos menos esquemáticos.

Pela primeira vez, e isso só a esquerda pode fazer, um prêmio com uma cifra tão grandiosa é anunciado efusivamente por um grupo de ganhadores. Os vencedores não se esconderam, quem sabe porque queriam dizer que finalmente tinham uma notícia boa para repartir.

Esse prêmio tem outro efeito bom, para os ganhadores e para quem olha de longe, que é a exposição da infelicidade bolsonarista. A mega-sena do PT faz com que eles sejam ainda mais infelizes.

A mega, diria um leitor de Paulo Coelho, pode carregar junto um recado, para que as esquerdas, e não só o PT, saibam lidar melhor com a chance da surpresa em meio a tanto desalento.

E vamos desejar que a extrema direita sofra, sofra muito, sofra e manifeste esse sofrimento, sem entender direito como, num país em que tudo favorece o golpismo e o reacionarismo, um grupo de petistas ficou rico.

Esse prêmio é também um deboche com Sergio Moro e a Lava-Jato e bem que poderia ser um sinal de que outras coisas até agora improváveis poderão acontecer. Que aconteçam logo.