Por que o acordo do PT com o PSB é fundamental para a ideia Lula voltar ao poder. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 3 de agosto de 2018 às 12:33
Lula na Bahia com estudantes . Foto Ricardo Stuckert

O PT inicia hoje em São Paulo o encontro que vai resultar na oficialização do nome de Luiz Inácio Lula da Silva para disputar a sua sexta eleição para presidente da República. Ganhou duas — 2002 e 2006 — e perdeu três — 1989, 1994 e 1998. De acordo com as pesquisas de intenção de voto, é favorito para ganhar o seu terceiro mandato.

Mas, pelas declarações que os ministros do TSE e do STF têm dado, a pressão para que seja inabilitado é grande, o que não quer dizer que venha a ser derrotado: Lula, como ideia, coloca quem ele indicar no segundo turno das eleições e, no cenário contra Jair Bolsonaro, a possibilidade de eleição é gigantesca.

Mesmo com a chance real de voltar a governar o Brasil, há setores no PT (minoritários) que olham para a folha e não conseguem enxergar a árvore ou a floresta ao redor, e devem provocar no encontro de hoje discussões sobre o acordo que criou o blocão progressista capaz de se contrapor ao centrão conservador de Alckmin.

A discussão central será a candidatura de Marília Arraes em Pernambuco. Com Marília Arraes, o PT tinha, de fato, chance de se eleger para o governo do Estado, mas a um custo que se tornou alto em demasia para qualquer partido suportar:  o projeto nacional. E nunca é demais lembrar que partidos, em tese, são organizações de âmbito nacional e os interesses colocados neste plano prevalecem sobre os regionais.

Foi este o princípio que prevaleceu na reunião que começou na última terça-feira à noite e entrou na madrugada de quarta-feira, entre representantes do PT, PC doB, PSB e PROS.

O PDT também participou, na parte final, quando Carlos Luppi, presidente nacional da legenda, chegou e ouviu a proposta formulada pelo PCdoB de se integrar ao bloco, com a oferta de que indicasse o candidato a vice.

Luppi disse que precisava conversar com Ciro Gomes, mas, como era tarde, preferiu não telefonar. A questão ficou em aberto, mas, dois dias depois, quando esse convite vazou, Ciro deu a resposta: considerou uma “aberração” ser vice na chapa de Lula. Por esse decisão, o PDT escolheu marchar sozinho para o pleito nacional.

A velha imprensa, naturalmente alinhada aos interesses do centrão de Geraldo Alckmin, tratou o acordo por dois aspectos secundários, para a alegria dos adversários do PT, já que têm potencial para lhe causar algum desgaste momentâneo: o fim da candidatura de Marília Arraes a governadora e o isolamento de Ciro Gomes, como se este fosse o objetivo do bloco progressista.

O isolamento de Ciro foi a consequência, não o motivo da criação do bloco. Ao se unirem PT, PCdoB e PROS, o tempo de TV de Lula ou de quem ele indicar quase dobra. Vai de aproximadamente 1 minuto e meio para 3 minutos. E essa união só se tornou possível com a costura que colocou a questão de Pernambuco na mesa.

Sem o apoio à reeleição de Paulo Câmara, o PCdoB teria candidatura própria – Manuela D’Ávila — e o PSB teria que se decidir por uma coligação em nível nacional — neste caso, uma corrente pendia para Alckmin, outra para Lula e a maior, para Ciro Gomes. O PROS também poderia trilhar outro caminho. Para o PT, isso significaria o isolamento no quadro partidário, ainda que conte com a locomotiva Lula.

Quem tenta minar o PT como articulador dessa aliança desconsidera o fato de que o condutor do processo foi o PCdoB, interessado no apoio do PSB no Maranhão e na vaga de vice na chapa de Paulo Câmara em Pernambuco, reservada para Luciana Barbosa de Oliveira Santos.

Por isso, a condição que o PCdoB colocou na mesa para formar o bloco foi esta: aliança que incluísse o PSB ou nada. Para o PT, foi também uma conquista importante. Com a aliança, além do tempo maior de TV, o PT consegue palanque nos 10 Estados em que os três partidos governam — à exceção de São Paulo, que tem Mário França, aliado de Alckmin, no chefia do Executivo.

Entre os representantes do PT no encontro, estavam Gleisi Hoffmann, presidente do PT, Lindbergh Farias, líder do PT no Senado, Paulo Pimenta, líder do PT na Câmara dos deputados, Luciana Barbosa de Oliveira Santos, presidente do PCdoB, que tinha ainda como representantes Renato Rabello, Renildo Calheiros, e Carlos Siqueira, presidente do PSB. Luppi, do PDT, chegou depois.

Quem acha que um acordo dessa natureza foi feito sem a anuência de Lula, como se chegou a especular na velha imprensa, se engana. O ex-presidente foi ouvido e deu sinal verde para que a aliança fosse selada. Pesquisas internas dos partidos revelam que, sem o nome de Lula na disputa, o candidato que ele indicar tem entre 20 e 24%.

Este é o índice de resposta colocada ao eleitor com a pergunta: Se Lula não puder ser candidato e indicar alguém, você votaria nele? Não é citado nenhum nome, apenas a referência “candidato do Lula”. As respostas ocupam o primeiro lugar. Em segundo, está Bolsonaro, com índice entre 15 e 18%, depois vêm Marina Silva, Geraldo Alckmin e Ciro Gomes.

Nesse quadro, o cenário de segundo turno mais provável é entre o candidato de Lula e Bolsonaro. Nesse caso, o candidato de Lula ganha — quem for para o segundo turno contra Bolsonaro, ganha. Por que, num quadro assim, o PT abriria mão do acordo com o PSB e deixaria o caminho livre para Ciro?

O candidato do PDT poderia estar à frente nesse processo, até como candidato de Lula, mas, depois de se mostrar firme contra o impeachment de Dilma, acenou para outro campo político.

Deu declarações ambíguas sobre a condenação de Lula e cometeu um erro difícil de corrigir: deixou de ir ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC quando Lula teve a prisão decretada por Sergio Moro e fez um ato político lá.

Foi o momento mais agudo da trajetória de Lula, e Ciro escolheu não ir.

Ciro ainda tentou acordo com partidos da base de Michel Temer, principalmente o DEM, que o trocaram por Geraldo Alckmin.

O PT, com seu esforço legítimo para voltar a governar o Brasil, retomando o lugar de que foi tirado com violência institucional, fez o que qualquer partido com vocação para o poder faria — vocação para o poder não é negativo, porque o poder é meio de transformação.

Com o acordo que criou o blocão progressista, o PT somou forças e mostrou que não está brincando ou blefando quando levanta a bandeira de Lula candidato. Lula, como candidato ou ideia, precisa de aliados para a árdua tarefa de recolocar o Brasil nos trilhos.

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O Diretório Estadual do PT em Pernambuco manteve a candidatura de Marília Arraes a governadora, mas essa decisão não em chance de prosperar. O artigo 159 do Estatuto do PT considera nulas as decisões regionais que contrariem as posições nacionais do Partido. Marília Arraes, de 34 anos, tem uma avenida aberta pela frente e se tornou candidata a governadora alertada, desde o início, de que poderia haver uma composição com o PSB que inviabilizaria sua candidatura.

Marília exerce o direito legítimo de lutar por seu espaço. Mas, para petistas mais experientes com quem conversei, ela acabará entendendo que a questão nacional tem prioridade sobre os interesses regionais. A ela, foi oferecida a proposta de ser a puxadora de votos na eleição para a Câmara dos Deputados, postos que seu avô, Miguel Arraes, já ocupou e seu primo, Eduardo Campos, também.

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A vaga de vice na chapa do PT será de alguém indicado pelo PCdoB — a mais cotada é, naturalmente, Manuela D’Avila, que foi escolhida candidata a presidente, mas, como a ata do partido não foi, propositalmente, fechada, ela pode ser indicada a vice na composição fechada com o PT.