
Lideranças do Centrão avaliam que a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal enfrenta resistência interna, apesar de alguns nomes do bloco terem sinalizado apoio inicial. Nos bastidores, o clima é de cautela.
Deputados federais e senadores afirmam que há um “temor” de que Messias fortaleça a ala do STF vista como responsável por decisões que tornam mais rígido o controle sobre as emendas parlamentares. A tensão não é recente. Desde a chegada de Flávio Dino ao tribunal, a análise das ações sobre orçamento secreto e impositividade de emendas ganhou centralidade.
Dino assumiu a relatoria desses processos e passou a conduzir decisões que influenciam diretamente o uso de recursos pelo Congresso. Para o Centrão, a ampliação dessa corrente dentro da Corte pode representar risco à “autonomia” do Legislativo.
Parlamentares lembram que o episódio envolvendo o decreto do IOF aumentou a desconfiança. À época, Câmara e Senado derrubaram o ato do governo que reajustava as alíquotas do imposto. O STF, porém, considerou inválida a decisão dos congressistas, o que foi interpretado como sinal de alinhamento do tribunal ao Planalto.
Nesse cenário, Messias inicia sua aproximação com senadores sabendo que enfrentará um caminho mais difícil. O tradicional rito de conversas individuais, conhecido como beija-mão, já começou, mas aliados reconhecem que a resistência política é maior do que a prevista inicialmente.

A situação se agrava porque o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, não esconde a insatisfação com a escolha. Ele defendia a indicação de Rodrigo Pacheco ao STF, movimento que, na avaliação de interlocutores, fortaleceria sua articulação interna.
Lula, entretanto, deseja que Pacheco dispute o governo de Minas Gerais em 2026, o que inviabilizou o plano. Senadores próximos a Alcolumbre afirmam que a irritação do presidente da Casa não se limita à preferência pessoal.
Para ele, a indicação de Messias não amplia o espaço político do Senado nem atende ao equilíbrio que desejava para a Corte. Ciente das dificuldades, o indicado prepara uma estratégia para tentar reverter o clima.
Nas conversas com parlamentares, Messias pretende enfatizar que seu perfil não se confunde com o de Dino, ressaltando trajetória técnica e atuação discreta desde que assumiu a Advocacia-Geral da União.
Ele também deve reforçar a defesa das prerrogativas do Congresso, tentando sinalizar que não haverá confronto com parlamentares em temas sensíveis. A avaliação interna, porém, é de que seu esforço precisará ser intenso até a sabatina, já que a indicação é tratada como politicamente “complicada”.