Por que o Equador Ama Rafael Correa

Atualizado em 25 de maio de 2013 às 20:46

Correa colocou ordem na caótica economia equatoriana e inovou em políticas sociais.

Correa
Correa

O artigo abaixo, do jornalista Mark Weisbrot, foi publicado originalmente no Guardian. Hoje, Correa tomou posse para seu terceiro mandato consecutivo.

Rafael Correa terá mais quatro anos no poder. Não é difícil entender os motivos.

O desemprego caiu para 4,1% no final do ano passado – a menor taxa nos últimos vinte e cinco anos. A pobreza diminuiu 27% desde 2006. Os gastos em educação mais que dobraram em termos reais.

Um maior investimento em saúde ampliou o acesso da população aos cuidados médicos. Outras despesas sociais também se ampliaram substancialmente, incluído o subsídio do governo à aquisição da casa própria.

Isso pode parecer insustentável, mas não é. O pagamento dos juros da dívida externa do Equador é menos de 1% do PIB, o que é muito pouco; e a dívida pública do país é 25% do PIB, o que também é bem pouco.

A revista Economist, que não aprecia muito os governos de esquerda da grande maioria dos países da América do Sul, atribui o sucesso de Correa a “uma mistura de sorte, oportunismo e habilidade”, mas foi a habilidade que realmente fez a diferença.

Correa pode ter tido sorte, mas não foi boa sorte: ele tomou posse em janeiro de 2007 e no ano seguinte o Equador foi um dos países mais afetados na região pela crise financeira internacional.

Isto porque havia uma forte dependência de recursos enviados do exterior (por exemplo, de trabalhadores nos Estados Unidos e na Espanha) e das exportações de petróleo, que respondiam por 62% das receitas de exportação e 34% da arrecadação do governo naquele momento.

O preço do petróleo caiu 79% em 2008 e o envio do dinheiro de fora também se reduziu drasticamente. O efeito disso tudo na economia do Equador foi comparável ao colapso do crédito imobiliário americano, que tanto contribuiu para a grande recessão mundial.

E o Equador também teve o azar de não possuir sua própria moeda (o dólar americano fora adotado em 2000), o que significa que o país não podia sequer imprimir dinheiro para enfrentar a recessão.

A tempestade durou nove meses. Um ano depois, as coisas estavam de volta ao lugar, e Correa se transformou num dos presidentes mais populares do hemisfério.

Como isso aconteceu? Provavelmente o fator mais importante foi um grande estímulo fiscal em 2009, na casa de 5% do PIB (muito mais do que foi feito nos Estados Unidos).

O governo também reformou e regulou o sistema financeiro. E aqui nós chegamos ao que é, provavelmente, a mais competente reforma financeira de qualquer país no século XXI.

O governo tomou o controle do banco central e o forçou a trazer de volta cerca de dois bilhões de reservas que estavam no exterior. O dinheiro foi usado pelos bancos públicos para fazer empréstimos  que beneficiaram a infraestrutura, o setor de construção e a agricultura.

O dinheiro que estava deixando o país foi taxado e os bancos foram obrigados a manter 60% do seu patrimônio líquido no país. Isso levou as taxas de juros para baixo.

O governo renegociou contratos com companhias de petróleo estrangeiras quando os preços aumentaram. As receitas governamentais aumentaram de 27% do PIB em 2006 para mais de 40% no ano passado

O objetivo de todas as alteração foi dar ao sistema financeiro um caráter de interesse público, ao contrário do que acontece em países como os Estados Unidos.

Para que isso acontecesse, o governo também separou o setor financeiro da mídia – os bancos eram proprietários da maior parte das empresas jornalísticas antes da eleição de Correa – e criou leis contra monopólios.

A visão convencional é que práticas “antinegócios”, como a renegociação dos contratos de petróleo e a ampliação da autoridade do governo, são um caminho seguro para um desastre econômico.

O Equador também deixou de pagar um terço de sua dívida externa depois que uma comissão internacional concluiu que aquela porção tinha origem ilegal. E a “independência” do Banco Central que o Equador revogou é considerada sagrada pela maioria dos economistas.

Mas Correa, um economista com Ph.D., soube escolher o momento certo para ignorar a maior parte de seus colegas.

Correa sofre críticas da mídia por ir contra a sabedoria convencional e – provavelmente o maior pecado aos olhos da imprensa da negócios – ter sucesso.  A maior agressão da mídia veio quando o Equador ofereceu asilo ao jornalista Julian Assange, do Wikileaks.

Mas aqui, como na política econômica e na reforma financeira, Correa estava certo.

Era óbvio, especialmente depois que o governo britânico fez uma ameaça sem precedentes de invadir a embaixada equatoriana, que se tratava de perseguição política.

É raro, e animador, ver um político enfrentar tão firmemente forças tão poderosas – os Estados Unidos e seus aliados na Europa e na mídia internacional – em nome de um princípio. Mas a tenacidade e a coragem de Correa fizeram muito bem ao seu país.