Porque o locaute dos caminhoneiros é o novo capítulo do golpe. Por Fernando Ramos

Atualizado em 26 de maio de 2018 às 17:04
Caminhoneiros. Foto: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

POR FERNANDO RAMOS

1) Greve é quando os trabalhadores param de trabalhar para reivindicar os seus direitos. Locaute é quando os empresários forjam uma greve falsa, usando os trabalhadores para reivindicar em nome deles os pleitos empresariais. 70% da frota de caminhões pertencem às empresas e transportadoras. É esse segmento que está parado, e não os 30% de caminhoneiros autônomos. Os caminhões que abastecem os postos pertencem às empresas apenas.

2) Movimento União Brasil Caminhoneiro é liderado por Nélio Botelho. Ambos possuem histórico de luta contrário aos interesses dos caminhoneiros, por exemplo, contra o descanso obrigatório. Eles não estão pedindo o aumento dos pagamentos pelo trabalho dos caminhoneiros (o que faria sentido se fosse uma greve de verdade). Eles pedem o subsídio estatal para diminuir o preço do diesel. Tal subsídio não diminuiria o preço da gasolina e etanol aos consumidores finais. Apenas engordaria os lucros das empresas e transportadoras.
3) A Petrobrás nunca precisou flutuar os preços de combustíveis ao sabor do vento do mercado externo. Tínhamos regulamentação estatal para esses valores. Temer acabou com isso, deixando os preços oscilarem de acordo com as variações internacionais. Isso beneficia os acionistas e o mercado especulativo, prejudicando os consumidores. Ele criou o problema, para depois entregar a “solução”.
4) A “solução” já está escancarada nos adesivos que estão sendo distribuídos: “Intervenção Militar Já”. Esse mesmo segmento dos transportadores foi bastante ativo nas manifestações manipuladas do “Fora Dilma”. Na época da Dilma, a gasolina girava ao redor de R$ 2,80. Na era Temer, está chegando a R$ 5,00 agora, sendo que os postos aproveitam o caos para reajustarem preços do mesmo combustível comprado a muito, muito menos do que isso, antes do locaute.
5) Se fosse uma pauta dos trabalhadores, eles estariam reivindicando a melhoria dos seus direitos trabalhistas, como descanso obrigatório, aí incluso também o aumento do pagamento pelos fretes devido ao aumento do custo do combustível, bem como o retorno da regulação estatal dos preços e não apenas o subsídio ao valor do diesel, que não beneficia esses caminhoneiros parados (que não são autônomos), mas os seus patrões.
6) O alardeamento de caos propagado pela Globo, dizendo que vai faltar comida nos supermercados e etc. cria um clima propício a uma intervenção militar ou eleição indireta começando com a queda de Temer. Inclusive, o artigo 81 da Constituição está sendo regulamentado agora para prever a forma em que devem ocorrer eleições indiretas caso o cargo do Presidente se torne vago. Com isso, não haveria eleições diretas em Outubro, pois o presidente indireto ficaria até o final do mandato de Temer, ou seja, até o final de 2018.
7) De resto, tudo isso que está acontecendo apenas reforça o coro da abertura desse mercado do petróleo para empresas estrangeiras. Aquela falácia de que maior concorrência reduz os preços etc.
8- Caminhoneiros autônomos continuam trafegando normalmente. E não acredito que vai faltar comida nos supermercados. Esse é apenas o discurso do medo que sempre favoreceu a tomada de poder por regimes autoritários que nunca teriam a representatividade necessária para ganhar nas urnas.
9) Por fim, a manipulação de uma ferramenta social conquistada pela esquerda, a greve, pelos interesses da elite minoritária numericamente visa afastar a possibilidade de uma greve geral no Brasil caso sejam canceladas as eleições diretas. Esse episódio serve para mostrar ao povo que coisas terríveis podem decorrer de uma greve, tornando inócuo um dos recursos mais poderosos que o povo possui para lutar pelos seus direitos.
10) Temer já está atolado em merda até o pescoço e o corte de sua cabeça já está programado. Agora, a missão da direita e da extrema-direita é gerar a atmosfera social propícia para que o poder continue nas mãos deles, ao invés de passarem a bola para um candidato eleito em eleições diretas nas quais, sabemos, uma frente unida da esquerda traz chances muito maiores de vencer. O primeiro passo desse estratagema foi a intervenção federal no Rio de Janeiro, o segundo a prisão de Lula e, o terceiro, essa “greve”, que nunca foi greve, mas sim locaute. Olho aberto. Começa um novo capítulo do Golpe de 2016.