Por que o Mackenzie não permitiu o ato antigolpe em suas dependências. Por Mauro Donato

Atualizado em 24 de março de 2016 às 9:55

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Sensibilizados pelo momento atual, alguns estudantes resolveram promover um ato em favor da democracia. Numa faculdade em que um dos cursos de maior relevância é o de Direito, acreditaram poder contar com o apoio da instituição e utilizar o auditório para receber convidados e lideranças sociais para debate de ideias e pronunciamentos, assim como ocorre com frequência na faculdade de Direito da USP ou na PUC, por exemplo.

Mas a instituição em questão é o Mackenzie. A reitoria negou e assim o ato foi obrigado a transcorrer na rua (a emblemática Maria Antonia), debaixo de chuva.

Por que o Mackenzie não permitiu que a manifestação fosse realizada nas suas dependências?

“Disseram que não iriam compactuar com nenhum dos dois lados e que não iriam se posicionar, mas isso já foi um posicionamento. A direção do Mackenzie é o conservadorismo puro”, disse Jamyle Rkain, uma das organizadoras do ato, aluna do 4º semestre de jornalismo.

Reitoria e direção da faculdade conhecem bem seu público pagante. Estava na cara que aquilo não seria bem aceito pela imensa maioria de seus alunos. Sobretudo os de Direito, Administração e Economia.

Isso ficou evidente quando um grupo com estudantes desses cursos aproximou-se da manifestação e ficou em frente a um bar tomando cerveja e fazendo provocações, observando cada pessoa.

Enquanto entrevistava uma aluna negra, notei que me olhavam insistentemente e um deles disse: “Vai, pau no cu”. Logo depois, um copo cheio de cerveja voou em minha direção e passou a centímetros da minha cabeça.

Daí em diante as provocações foram aumentando em agressividade e ousadia. Um deles atravessou a manifestação ostentando o dedo do meio erguido e ofendendo a todos. Foi a deixa para uma quase briga generalizada. Do bar onde estavam reunidos os adoradores de Sergio Moro, duas bombas caseiras foram lançadas.

Um jovem ficou no meio dos manifestantes e declarava: “Vou ficar aqui, eu pago a faculdade, a faculdade é minha”, numa evidente atitude de menosprezo aos cotistas e bolsistas. De maneira consciente, manifestantes se retiraram e o ato acabou.

“A gente queria unir forças e mostrar que o Mackenzie pode mudar com a força dos alunos, limpar a imagem”, lamentou Jamyle. Pelo visto, será uma luta árdua.

Nas redes sociais, há uma comunidade chamada “Mackenzie contra o comunismo”, que se define como um “grupo fechado de alunos, ex-alunos e simpatizantes para denunciar infiltrações comunistas, socialistas e bolivarianas. Denunciar professores e religiosos comunistas dentro do Mackenzie.

Fortalecimento da tradição cristã, direita conservadora e direita liberal no Mackenzie.” E afirmam sem nenhum constrangimento: “Sim a história se repetirá com muito orgulho! Por Deus, pela Pátria, pela Família e contra o Comunismo.”

De fato, a história tem se repetido. Desde que passou a aceitar cotistas e bolsistas de programas como Prouni, o Mackenzie tem sido palco de recorrentes atos de racismo em suas instalações.

“Existe uma mudança qualitativa, ainda que insuficiente na configuração social da população brasileira. Jovens da periferia, negros em particular, que alcançam a universidade. Isso incomoda a elite que não percebe que promover a igualdade social ajuda a coibir a violência, algo que ela tanto se queixa. É pouco inteligente”, declarou ao DCM o Secretário Adjunto da Promoção da Igualdade Racial, Elizeu Soares Lopes.

É desalentador ver jovens tão arrogantes, racistas, flertando com o fascimo em pleno ano de 2016. Triste da faculdade que irá formar não um, mas centenas de Sergios Moros. A Ku Klux Klan ainda vive ali em Higienópolis.

 

A "Batalha da Maria Antônia"
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