Por que o pai do capitalismo, Adam Smith, reprovaria Mitt Romney

Atualizado em 19 de setembro de 2012 às 7:33
Romney

Mitt Romney é um fanfarrão.

Ele trata o eleitor como idiota. Um comercial recente de sua campanha acusava Obama de ter deixado milhões de empregos de americanos irem para a China.

Obama não deu um basta à China. Nós daremos, disse Romney.

Mas veja. Transferir empregos para a China por causa da mão de obra barata foi uma das estratégias mais frequentes de Romney nos negócios controlados por ele. Romney aumentou a fortuna herdada do pai ao se especializar em comprar empresas quebradas e, com um corte de custos impiedoso e imediatista, valorizá-las no curto prazo – o tempo suficiente para ele ganhar um bom dinheiro.

Romney fez e faz o que Gordon Gekko do filme Wall Street, uma das grandes obras de Oliver Stone, fazia. E agora vem falar que Obama deveria ter impedido algo que ele próprio fazia?

Pior ainda é o conteúdo do vídeo que foi gravado sem que Romney percebesse, e publicado pelo site de jornalismo investigativo Mother Jones. O vídeo registra uma conversa de Romney com milionários para levantar dinheiro para sua campanha.

Ali aparece o Romney real, não o de mentirinha que fixou um sorriso no rosto botocado. Romney se refere com desprezo aos “47%” de americanos que votarão “de qualquer jeito” em Obama.

São os perdedores, segundo Romney. Melhor: são aqueles que querem “tudo” do governo: acesso a bons hospitais públicos ou a boas escolas públicas para seus filhos, por exemplo.

São aqueles que “não pagam imposto de renda”, disse Romney.

Ora. Boa parte deles não paga imposto de renda por estar desempregada. Outros tantos são isentos por ganharem pouco, mas em seu holerite vem o desconto.

O cinismo não pára aí. Romney publicou apenas uma declaração de imposto de renda, a despeito das pressões para que fosse transparente nisso. Sua taxa foi de 13%. Romney se especializou em evasões legalizadas, como o refúgio em paraísos fiscais. E como tantos ricos americanos foi favorecido por leis fiscais aprovadas por governos republicanos.

Adam Smith não aprovava gente como Romney

O colunista Ezra Klein, do Washington Post, lembrou, a propósito disso, uma conversa que teve um alto funcionário do governo George W Bush. O tema era a reforma fiscal de Bush, em que entraram alguns supostos benefícios para os desfavorecidos.

O homem de Bush, narra Klein, lhe perguntou se ele achava que o governo queria mesmo oferecer vantagens para pobres. “Não”, ele próprio responde. “Mas precisávamos daquilo para passar o resto”. O resto – na verdade o essencial – eram as vantagens oferecidas na reforma a ricos como Romney.

Se alguém não paga imposto nos Estados Unidos, são pessoas como Romney, não os já célebres “47%” que segundo ele querem “tudo” do governo e “nada” dão.

Há uma falácia fundamental na visão de governo de Romney e similares. Eles rechaçam o que chamam de “Nanny State”, Estado Babá, que alegadamente trata a sociedade como bebê. Mas, no poder, eles promovem um “Nanny State” para si próprios.

Não são capitalistas. São predadores.  Veja o que escreveu o inventor do capitalismo, o escocês Adam Smith: “O impulso em admirar, e quase venerar, os ricos e os poderosos, e desprezar ou, ao menos, negligenciar pessoas pobres é a maior e mais universal causa da corrupção dos nossos sentimentos morais”.

Adam Smith parece que escreveu isso ontem, para se referir a Mitt Romney.