Por que o Papa envelheceu tão bem e FHC tão mal? Por Paulo Nogueira

Atualizado em 11 de julho de 2015 às 13:41
Guerreiro do povo
Guerreiro do povo

Todos os livros escritos por FHC não valem o discurso do Papa Francisco na Bolívia.

Não apenas os livros. Inclua aí os discursos, as entrevistas, as cartas, os emails e o que mais for.

Faço esta comparação porque ambos são senhores de idade avançada, o Papa com 78 anos e FHC com 82.

Os anos fizeram bem ao Papa e mal a FHC.

O Papa, desde que chegou, se pôs a combater como um gladiador o grande câncer do mundo: a desigualdade social.

O resto foi consequência disso.

Francisco retrata, à perfeição, o Zeitgeist, a palavra alemã que designa o espírito do tempo.

Rapidamente, ele venceu a resistência de progressistas que não acreditavam que de uma Igreja Católica corroída pudesse brotar um Papa como aquele.

Hoje, Francisco é provavelmente a voz mais admirada, mais reverenciada e de maior repercussão em todo o mundo.

A pregação igualitária lhe dá tanta força que ele parece um adolescente octogenário.

Poucos notaram isso, mas uma de suas maiores virtudes é o constante sorriso.

Ele combate o bom combate, para usar as palavras de São Paulo, com um sorriso nos lábios.

É um exemplo para todos nós.

Da luz, passemos para a sombra.

Quantas vezes você viu FHC falar em desigualdade? E estamos falando de um homem de um país que é recordista mundial em iniquidade.

Não me lembro de tê-lo visto falar nisso uma única vez.

Em compensação, FHC demagogicamente fala compulsivamente em corrupção, ele que comprou a sua reeleição.

Por que ele fala tanto?

Por duas grandes razões, ambas canalhas.

A primeira.

Historicamente, corrupção tem sido uma cortina de fumaça para encobrir a tragédia da desigualdade nacional.

Você fala tanto nela que a iniquidade cai, automaticamente, para um segundo plano, ou terceiro, ou quarto.

A segunda.

A classe média – composta majoritamente de pessoas pouco politizadas — é facilmente manipulada com o uso de denúncias (tantas vezes falsas) de corrupção.

É uma receita velha: a plutocracia matou Getúlio com isso em 54, derrubou Jango em 64 e vem buscando loucamente liquidar Lula e Dilma, em nossos dias.

FHC se juntou à plutocracia, e age como um serviçal dela. Em vez de iluminar o debate, como faz Francisco, ele ajuda no embuste.

A corrupção deve ser atacada, é claro. Mas de verdade – não de mentira, como sempre fez a plutocracia.

O uso demagógico da corrupção impede que ela seja extirpada.

Desconfie de quem fala, o tempo, todo em corrupção. Assim como você com certeza já faz em relação aos que, como os Malafaias, vivem falando sobre a moral e os bons costumes.

É o mesmo tipo de demagogia, de falácia.

Francisco faz bem ao mundo, com seu empenho desmesurado pelos pobres e sua crítica constante aos gananciosos.

FHC faz mal ao Brasil, e à própria biografia, com seu discurso repetitivo e enganador sobre corrupção.

Na velhice, Francisco é um homem puro. E FHC é uma alma corrompida e corruptora.