Por que o processo que pode tornar Russomanno inelegível anda mais rápido que o usual. Por José Cássio

Atualizado em 9 de agosto de 2016 às 9:36

russomanno

 

Da mesma forma que o deputado Celso Russomanno, seguindo seus interesses particulares, votou para ver Dilma Rousseff afastada da presidência, muita gente agora, motivada pelos mesmos fins, conta com uma manobra no tapetão para afastá-lo da corrida pela prefeitura de São Paulo.

Motivo: um processo no Supremo Tribunal Federal (STF) acusa o candidato do PRB de peculato (desvio de verba pública). Se condenado, no julgamento agendado para terça-feira, 16, Russomanno será barrado pela Lei da Ficha Limpa e ficará inelegível por oito anos.

Desconsiderando as biografias pessoais (Dilma é uma mulher reconhecidamente íntegra, enquanto Russomanno não faz feio em qualquer roda de picaretas), o fato é que a situação de ambos é bem parecida: se Dilma corre o risco de perder o mandato por uma prática administrativa largamente utilizada por prefeitos e governadores, Russomanno pode ser descartado por uma imoralidade cometida por 10 entre 10 parlamentares de Brasília. 

O caso envolve Sandra de Jesus, servidora comissionada no seu gabinete – dava expediente em São Paulo, na sede da Night and Day, produtora de vídeo do deputado.

Em 2014 Russomanno foi condenado a dois anos e dois meses de prisão, sentença convertida em penas alternativas. Recorreu e o pedido acabou no STF, já que em 2015 ele voltou à Câmara e ganhou foro privilegiado.

O candidato do PRB se defende alegando que Sandra exercia “atividades internas, eventuais e esporádicas” na Night and Day após seu expediente como assessora parlamentar.

O advogado Alberto Rollo, seu defensor na área eleitoral, está confiante numa vitória no STF.

“Ele tem plenas condições de ser absolvido”, diz. “Não fez nada errado. A Câmara permite a contratação de assessores na base eleitoral dos parlamentares”.

O advogado lembra que a prática é comum entre os deputados, mas admite uma preocupação com o viés político do julgamento.

“De fato está havendo certa pressão, potencializada por um interesse de setores da mídia em derrubar a candidatura”, diz Alberto Rollo. “Basta ver quem são os adversários dele: o PT de Fernando Haddad, que indicou oito ministros do Supremo, o PMDB de Marta Suplicy e do presidente interino Michel Temer e o PSDB de João Doria e boa parte da elite financeira e jurídica do país”.

Alberto Rollo prefere não citar o mérito, mas ressalta a rapidez do processo.

“Desde que subiu para o STF o processo teve uma tramitação recorde”, diz, citando o início na Procuradoria, a passagem pela relatora Carmem Lúcia e o despacho do ministro revisor Dias Tóffoli em apenas dois dias.

“Um processo no STF demora em média até cinco anos”, diz o advogado. “Basta ver quantos envolvendo Marta Suplicy e o prefeito Fernando Haddad estão parados, sem nenhuma perspectiva de encaminhamento.”

Ainda que seja condenado, Russomanno não perderá o registro da sua candidatura que vai sair, bingo!, no mesmo dia do julgamento.

“O que pode ocorrer é ele ganhar a eleição e quando assumir ter o diploma cassado”, informa Alberto Rollo.

O curioso é que o caso da contratação da assessora é gota no oceano comparado às broncas que Russomanno enfrenta nos tribunais. 

Uma delas foi divulgada com exclusividade pelo DCM neste fim de semana: um esquema de propina e de superfaturamento de preços em uma franquia de clínicas que ele possui com Doctor Rey, conhecido por ser o cirurgião plástico das celebridades e que estrelava o programa “Doutor Hollywood”, da Rede TV.

Em 2014, Russomanno e Doctor Rey começaram a vender franquias da clínica Estética Hollywood e chegaram a assinar contrato com pelo menos 60 pessoas, das quais 12 denunciaram o ilícito. O negócio veio abaixo quando esses proprietários descobriram que pagavam muito mais pelos serviços e produtos que eram obrigados a adquirir. 

Na ação, os franqueados tentaram um acordo para desistirem do negócio e não pagarem multa. O acordo não caminhou e eles recorreram à Justiça. Muitos estão fechando seus negócios, com prejuízos que, em alguns casos, passam de R$ 2 milhões.

Num outro flagrante, em 2012, a Polícia Federal interceptou uma gravação que indicava seu envolvimento no esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Russomanno teria sido citado como detentor de sete milhões de reais em uma conta operada pelo grupo do bicheiro. 

Em 2000, foi acusado de falsidade ideológica por ter simulado o contrato de um imóvel a fim de alterar seu domicílio eleitoral para Santo André e concorrer à prefeitura. 

O deputado também foi autor de uma emenda parlamentar que destinava R$ 1,1 milhão para uma ONG que ele preside e administra com a família.

Com tantos BO´s nas costas, em nenhum momento Russomanno pos a mão na consciência na sinistra sessão de 17 de abril, quando os deputados votaram pelo afastamento da presidente. 

Agora, corre o risco de beber do mesmo veneno – por não pertencer a uma certa elite blindada na política e vendo seu sonho de tornar-se prefeito morrer na praia, engolido pela onda de “justiçamento” que tomou de assalto a política nacional.